quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pensando em encerrar o blog

Penso nesse momento, dia 14/11/07, em escrever algumas coisas sobre a vida de minha menina. Depois, não sei se colocarei mais coisas ou se vou terminar com essa pequena estória. O tempo me dirá. Saudade, muita saudade!


Me disse um certo médico, aos meus dezesseis anos de idade, que meu útero era infantil e reverso, portanto, não engravidaria sem tratamento. Aos dezessete anos e quatro meses de vida, engravidei de minha querida e adorada Chris.
Que bom que aquele médico estava errado! Que triste que outros médicos estavam errados! O primeiro, com seu erro, me deixou muito feliz; os outros, me deixaram ................
Não sei mais de palavras.

Minha pequena nasceu Chris, pois sabia que qualquer outro nome que começasse dessa maneira lhe traria Chris como apelido. Nasceu cabeluda, cabelos negros, olhos grandes parecendo jabuticabas.
Primeira neta, primeira sobrinha, tantos vestidinhos lindos dados pela tia Dalva. Meiga, doce e gentil, carinhosa, risonha e chupeteira.
Chris tinha três anos, quando cheguei do hospital com sua irmã, Mariana. No mesmo dia, lá veio ela carregando a irmãzinha com suas pequenas mãozinhas, segurando-a por debaixo de seus pequenos e frágeis bracinhos, dizendo toda feliz:
- Olha! eu trouxe o neném pra você!
Atravessou o pequeno corredor e chegou em meu quarto, as fraldas caindo. Gelei! Sussurrei aos ouvidos do pai: Meu Deus! O que a gente faz?
- Calma, não fale nada.
Ela me entregou a Mariana e imediatamente minha cabeça começou a doer. Levei algum tempo me recuperando do susto...

Eram amigas, só que com tres anos e pouco de diferença, a Chris não gostava de levar a Mari aos passeios. Normal entre todos irmãos que se prezem, os mais velhos sempre acham que são adultos e que os menores irão atrapalhar.
Muitas peraltices, passeios, viagens. Levava uma vida agitada e saudável. Com menos de dez anos, deixei que viajasse com uma família amiga para Alagoas! Logo depois, vieram as viagens para o Recife, na casa da tia Sônia...
Adoravam aos Menudos. Ela e a Mari foram ao show. Apavorados, permitimos. Fomos liberais demais, pais jovens e achando tudo natural. Mas tudo cercado de muito diálogo, carinho e atenção.
Ciganas depois de minha separação, acreditava que seria breve, mas não foi assim. Moraram com a avó, com a tia, depois voltaram pra mim e finalmente de novo para o pai. Que bom que um pai de verdade, amigo, companheiro, decente, amoroso, carinhoso. Um pai.
Aos dezesseis a primeira paixão, um grande amor: Deny, um garoto travesso, as vezes muito moleque. Ficava apreensiva, vigiava e um dia acabou. Em uma das brigas ela se sentou no portão do prédio e chorava, chorava muito. Lá de cima eu observando e sofrendo com ela. Então, escrevi um poema, do qual só recordo algumas palavras:

Por que

Por que só ao choro da morte ninguém se espanta?
Por que ao choro do amor os vizinhos e todos que passam se assustam?
Melhor chorarmos muito de amor, por amor, do que tão cedo chorarem por nossa partida, chorarem o choro pela nossa morte.

Quando de minha separação, foi irmã-amiga e um pouco mãe de sua irmã.
Conheceu o pai de seu menino Cauê, quando tinha mais ou menos vinte e dois anos. Nunca se casaram, ela morando com o pai e ele com a mãe dele. Pouco antes de sua partida, me confidenciou:
- Quero morar só com meu filho, estou cansada do André.
Sua decisão não foi respeitada por médicos negligentes, omissos e relutantes.
Tinha voltado à estudar, queria se formar, criar seu menino e fazer dele um ser feliz. Mas não é o que está acontecendo hoje, com tanto sofrimento.
A Chris foi uma criança adorável, uma jovem alegre, uma pessoa generosa, uma mulher consciente, uma filha amorosa, mãe cuidadosa e gentil.
Um caminho interrompido, ceifada de nossas vidas, arrancada de seu filho por descaso, puro descaso, negligencia, prepotência e falta de humanidade.
Ser médico, na maioria das vezes, é ter status, claro que para os privilegiados.
Se foi, assim, se foi, uma “simples cirurgia” que se transformou em um inferno em vida, quarenta dias de sofrer e depois partir, para sempre, pra nunca mais, nunca mais! Nunnnnnnnnncccccccccaaaaaaaaaa mmmmmaaaaaiiiiissssss!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eternamente sem ela!!!!!

Em tudo que escrevi joguei minha alma, meu coração, derramei todas as lágrimas que tive e ainda as derramo: pela manhã e a noite, nas madrugadas de insônia, na rua, na condução, dentro de toda minha revolução que começou no dia que se foi e sei que só se acabará quando me for pra te encontrar.
Te roubaram de mim mas nunca roubarão o amor que sinto por você.
Filha, te amo!