domingo, 14 de outubro de 2007

Na noite, assustada

Esbarrando nas pontas de galhos de árvores, percebendo cores viçosas em um jardim de esplendor.
Tremia todo seu corpo, sentia medo da noite, tarde já se fazia.
Seus passos se alargaram com o encanto de pensamentos. A noite era fria mas do seu rosto o suor escorria.
Enlaçava seus dedos, trepidavam seus pés. De canto de olho espiava a esquina, um duende acreditou que via.
Olhou de completo, um vigia se ia.
Aflita, não entendia, como podia tanta agonia?
Buscava somente chegar, se jogar na cama e poder descansar.
Ficar bem quieta, até tudo passar e sempre se lembrar: homem algum merece esse pesar.

Lágrimas

Vi uma lágrima cair. Não olhava no espelho, mas vi uma lágrima cair.
Os olhos gotejavam enquanto eu as matava com as mãos.
Como podiam ser tão pequenas, como gotas de cristal ou de orvalho, como caiam mansas se no peito existia um temporal? Como podiam ser assim, se lá dentro tudo explodia, as labaredas gritavam chegando na alma e no coração?

Outro coração

Tinha um coração, olhos brilhando, boca pintada, sabia sorrir.
Era um coração rosado, tinha festa e muito amor. Alguém atirou uma flecha, ficou espetado e vive zangado. Hoje tenho um coração pálido, desbotado, sem riso na boca e de olhos fechados.
As batidas, antes sincronizadas, hoje não tem ritmo de nada, se assustam a cada momento da vida.
Antes, bailes e muitas risadas, crianças queridas e muito amadas. Hoje está fechado, batendo em descompasso, desalentado.
Tinha dois pés agitados, hoje estão mancos, foram alvejados. Soltavam faíscas douradas, deles escorriam estrelas em cascata. Onde espaço exagerado, agora muito apertado.
Fechou os ouvidos, cerrou os olhos, emudeceu as palavras.
Dentro do peito passeava, cantava canções. Hoje está acorrentado e a chave se perdeu.

Palavras

Há muitos anos, li um caderno seu por pura curiosidade. Hoje, volto a fazer por necessidade.
Mãe, toda vez que venho aqui, leio seu caderno para conseguir chorar. Esse choro preso, amarrado, que não quer sair. Preciso chorar.

Mãe!! Aonde esta minha irmã?

Dia das Mães - autor desconhecido

Certa vez perguntaram a uma mãe qual era o seu filho preferido, aquele que ela mais amava. E ela respondeu: nada é mais volúvel que um coração de mãe. E como mãe, lhe respondo:
O filho dileto, aquele que me dedico de corpo e alma, é:
O que está doente, até que sare.
O que partiu, até que volte
O que esta cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que esta com sede, até que beba.
O que esta estudando, até que aprenda.
O que está nu, até que se vista.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que se casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que se cale.

E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que ja me deixou, até que o reencontre.

Resto de vida

O tempo que me reste, fiquei resto de vida.
Vida que tinha inteira, agora metade de vida que me resta.
Me arrasto na vida sem ti, agora são suspiros e lamentos na vida que sobra, como sopro de dor em vida chorando.
Tento caminhar, ando devagar. Tento viver, vivo tentando. Ela não volta mais. Sorri pra mim, ainda sai pra estudar, ainda chega do trabalho e cuida de seu menino com amor de mãe. Está em mim, mas não posso vê-la, canta canções que não consigo ouvir.
Que dor é essa? A saudade queima o peito! Fala comigo! Quero te ouvir...

O tempo que me reste, serei resto de dor.

óculos sem pernas, celular sem crédito, boca sem dentes, pele marcada, sandália quebrada, corpo gordo e maltratado, fome insana, angústia profana, saudade indecente, dor lancinante, presente de futuro embaçado, passado marcado, mulher sem amor, carência cruel, amigos longe, netos distantes, mãe sofrendo, irmãs em apuros, carteira vazia, alma latente, coração apertado, sol com frio, prisioneira sem grades, pés ressecados, vontades guardadas, dependente, agoniada, frustada.

O tempo que me reste serei resto de dor.