domingo, 4 de novembro de 2007

Promessas

A cabeça sem trégua e o tempo com pressa.
Um martírio, um delirio, um corpo entregue.
Surpresas, vontades, mas eu inanimada, inerte.
Choro no peito, na alma e na face.
Um pequeno gosto com muitos desgostos.
Solidão, silencio na escuridão.
Afazeres e poucos prazeres, renitência e pertinência.
Vozes, falas doces, risos contentes.
Eu perdida, acuada e assustada.
Marcada eternamente: viver, mover, me mexer, morrer ,não morrer, viver.
Festa, passos, copos cheios.
Reencontros e desencontros, conhecer.
Música, dança, canto
Poema, prosas e abraços.
Busco, penso, peço e não peço.
Preciso, quero mas não posso.
Corpo jogado, cabeça cobrando, esperança com medo.
Dia partindo, noite chegando, desassossego, socorro!
Chegou alguem? Chamou por mim?
Nada acontece.

Grito

Quero dar um grito dilacerado, escancarado! Um grito grunhido, desesperado.
E que em face disso o surdo volte a ouvir, o cego volte a enxergar e o cadeirante ande.
Um grito tamanho, onde duros corações voltem a palpitar, que olhos já secos voltem a verter lágrimas, que o bêbado saia do bar e o viciado pare de se drogar, que pequenos meninos abandonados tenham um lar.
Quero um grito limpando meu peito pois seu peso me faz cansar.
Um grito que corra com o vento, até que chegue ao mar. Que rache rochas, apague dores e suspiros. Um grito capaz, que varra pegadas de tanto mal amar.
Um grito estalante, assustador, e que demore outro a chegar. E que, então, sobre espaço para muito gargalhar...

Não pensei

Imensidão de palavras mas poucas para expressar o que sinto.
Pensamentos afoitos que se misturam na ansiedade desesperada.
Isnpiração que aflora e some, em instantes de pensamentos tumultuados.
Um cair pesado de chuva, um filete de vento pela porta semi-aberta.
O peito apertado, um doce acalanto pedindo aconchego.
Uma leitura afoita, curiosa, que no seu findar causa angústia e medo.
Uma vida parada, um corpo preso sem obedecer ao comando, no desespero de sorrir, trabalhar e voltar à viver.
Um mergulho profundo na espera da cura de uma doença que maltrata demais, a espera de outra cura que nunca se fará.
O tempo correndo, os anos se findando, rápidos, encurtando a vida. Quantos forem os anos que me restem, neles carregarei essa dor...
Quando a chuva se ameniza, ficam goteiras pesadas e latejantes e a noite já se faz fresca. Mas o peito ainda se faz inquieto.
Devaneio, castelo, ousadia, perplexidade, uma espera desse tempo que não pára e não me traz o tempo de paz.

Busca

A paz que busco não é pomba branca. É calma, doce e cheia de compreensão.
É a mudança da cara do meu coração que se encontra vermelho com manchas negras, soltando lágrimas com matizes de dor.
Hoje, sou metade de mim. Pensava ter perdido um pedaço e hoje percebo que não foi assim.
Já seria demais arrastar minha doença em busca da cura. Agora, me arrasto também buscando paz para essa dor.
Ser inteira, viver, já se faz luta feroz. Ser metade é correr os dias se colando a cada minuto, com a alma quebrada, o peito preso em cordas, o choro chegando a cada piscar de olhos, perdidos no nada.
O coração sangra, as imagens são recorrentes: primeiro aquele caixão maldito e seu sono eterno, depois ela chegando em casa, encontrando seu menino em sorriso escancarado, estendendo suas roupas no varal, limpando o jardim sentada em pequeno banco e depois partindo em uma de suas voltas para aquele hospital-calabouço...
Sou mistura de esperança e desespero, sou pessoa lutando em desmorono, com medo da morte, querendo morrer, acreditando sem nada entender.
A paz que busco é entendimento, verdades, harmonia e risada.
Não é pomba branca, é pássaro gigante, dourado, orelhas de prata, garganta de pedras coloridas, é onda de mar batendo em rochas de algodão, pássaro com bico de espuma soltanto bolinhas de estrelas, magia de alegria, sem gritos nem portas batendo, sem flechas envenenadas.
Vislumbro um caminho mas não sei ainda qual será, busco na mente pois meus passos ainda se apequenam dentro das dores que carrego.

Não sei cantar

Preciso que me empreste a tua voz.
Preciso de uma melodia de saudade, de esperança. Um acorde de renascer, um refrão de luz chamando mães decepadas a ouvirem uma canção de aceitar, mesmo sem entender.
Aceitar uma canção de saudade como companheira eterna.
Acender uma vela, esconder os retratos ou buscá-los a todo momento.
Doar, guardar as lembranças, dizer preces e buscar respostas: cada coração dirá o que fazer.
A canção nos chegaria e cada mãe que a ouvisse saberia que estamos juntas nessa estrada e que, mesmo sem nos conhecermos, saberemos como está a alma de cada uma de nós.
Mesmo sem saber o porque, saberemos que isso não importa. Todas entenderam que a dor é universal, atravessa os oceanos e chega a qualquer mãe ou pai.
Quero uma voz emprestada, como ajuda para descarregar tanta dor, dizer bem alto aos céus que tenha compaixão pelos pais e derrame um pouco de luz em peitos tão cheios de fúria.
Quero uma voz, um anjo de luz que traga o sol em almas geladas de tristeza.
A natureza é linda e é sábia, mas também erra. Carregar filhos é deixar pais perdidos, como chuva sem água, estrelas sem brilho, corte sem sangue e chorar a dor sem lágrimas. É gritar sem som, escutar sem ouvir, enxergar sem ver, sorrir sem boca e caminhar sem pés.
Calo agora minha voz, espero a sua emprestada para gritar e dizer que só me resta aceitar. Pois entender essa perda, jamais!

Vida! Que se faça viva!

Que me pese tanto a vida, terá o fardo que diminuir. Com tantos erros já cometidos, chegou a morte em minha vida, levando minha filha.
Que me acredite vencendo, a saudade nunca se acalmará. Peço, ao menos, que a dor possa se abrandar.
Que já me pese tanto a vida, que minha saúde possa melhorar.
Mesmo que eu já não espere tanto gargalhar, que possa pelo menos sorrir.
O passado já se foi e nunca a trará de volta.
Peço meu fardo mais leve pois é muito peso para carregar.
Tantos desencantos se fizeram, tantos chamegos se findaram.
Vida que se fazia viver, rir, se escancarar.
Vida que hoje traz despedaços, me tirando o riso, o sono e o prazer.
Que me pese menos os meus dias, que roubem menos os nossos sonhos.

Fraca força

Guerreio e creio que consigo, fraquejo e caio.
Levanto, esperneio, coloco tudo no lugar. A força, que é fraca e pouca, volta a me puxar.
A força forte, do outro lado, me arrasta, desmancha minha vontade de lutar e de novo joga tudo pelo ar.
Chega um novo dia, de acreditar e se levantar. Pés a caminhar, e logo os pensamentos começam a fraquejar.

Espanar as teias, não querer mais se enredar!!
Fazer a força forte e se por à navegar!!
As ondas são gigantes o vento, forte. Fazer das braçadas um braço de mar...
Jogar a rede sem se enroscar, comer o peixe sem se magoar.
Olhar o dia de sol, brindar a chegada da chuva, prestar atenção à letra da música.
Perceber o abrir da rosa, acreditar na valsa estelar.
Pegar uma criança no colo, lhe devolver o sorriso perdido.
De dentro da cartola, nenhuma pomba irá voar.
De dentro de nossos corações, muito amor pode brotar.
De nossos olhos, olhares cúmplices podemos dar.
De nossas bocas dizer o necessário e muitos sorrisos presentear.

Eternidade

Enquanto pulsa meu coração, vida tenho. Que vida tenho?
Durmo, acordo, desfaleço, sempre em tropeços.

Chega de crenças, procuras e respostas. Já o que sofro se faz bastante para meu coração. Qual vida hoje tem minha menina? Nenhuma. Vive somente em meu coração.
É para sempre, é finito, não quero mais nada buscar.
Conversava com ela todos os dias pedindo que viesse me encontrar e sei que jamais deixaria de vir se o pudesse fazer, não me deixaria tanto sofrer.
Começo, meio e fim é o que temos nesse mundo e a unica certeza é que todos iremos findar. Chegou o dia em que partiu, só no meu coração poderá estar.