terça-feira, 25 de setembro de 2007

Teu nome

Como posso entender o que aconteceu?
Homens que estudaram para salvar!
Raiva, muita, sinto sempre que lembro
Incompetentes, não souberam o momento
Sei que todos te lembraram eternamente



Mancharam suas mãos e mentes
Arriscaram e perderam sua paz de espirito
Nada fará com que médicos que
Tiram vidas por descuido
Um dia descansem em paz.

Desordem

zueira, capoeira, homem aranha
gargalhada, choradeira, brincadeira
atenção, má criação, emoção
olhar inocente, perguntas díficeis



procura respostas, digo o que consigo
ajeito, mudo a conversa
distraio, atraio, faço alguma graça
sente abandono, não entende de morte



quem entende de morte?
quem tem resposta?
temos a vida, a morte tem nossa ida
conversa pesada. viva a vida.

Voz

- Oi, filho!

Essa frase eu ouvia da minha filha, quando chegava em casa falando com seu pequeno.
Hoje, não posso mais ouvir, ninguém mais pode escutar.
O seu "oi, filho!" soava como um canto, cheio de melodia, carinho e amor.
Minha guerreira e mãe partiu pra nunca mais voltar. Seu filho - e meu menino - está muito zangado, cansado e machucado.
Mãos de homens despreparados, mãos de pouco caso, tiraram sua mãe e levaram minha menina. Tenho enterrado em minha alma um metal gelado e afiado, que me corta a cada dia.
Hoje não posso mais ouvir, não posso mais escutar: oi, filho!
Ficou só na lembrança sua doce e calma voz: oi, filho!

O filho dessa filha amada e tão querida, levada para sempre por homens tão cruéis, ficou cheio de dor, muito machucado e seu pai nada entende de filho.
Saudade alucinada, que maltrata e judia; a dor no peito que nunca esvazia.
Filho sem mãe, mãe sem sua filha e a dor no peito que nunca esvazia.

Muito choro

Choro por tudo: saudade, medo e aflição.
Choro de ansiedade, descaso e desilusão.
Choro pela verdade e por causa da mentira.
Choro pela morte, pela vida e pela angústia.
Choro pelo sol e pelo vento.
Choro quando lembro e quando a lembram.
Choro se o dia está lindo, choro quando está feio.
Choro por tudo e tudo é nada.

Quero saúde e não mais a dor.

Flores no jardim

Haviam duas flores no meu jardim. Flores que foram plantadas com muito amor, amo-as demais. Nasceram diferentes, cada uma com seu jeito e com um intervalo de tres anos entre os nascimentos. Reguei essas flores, alimentei, fiz tudo que achava estar certo, errando em algumas coisas, acertando em tantas outras.

Há pouco tempo, uma delas foi arrancada do meu jardim. Levaram-na para uma estufa escura, sem água para sete tanta, sem terra e sem sol: um lugar escuro, cinzento e gelado, cheio de flores secando, murchando e mal cuidadas; um lugar cheio de homens de branco, muitos deles frios, malditos, que se acham no direito de brincar de aprender. Deixaram minha flor secando, sem abri-la para matar o bicho que sugava sua seiva, deixando assim seco seu caule.

Minha flor voltou para o meu jardim com medo, assustada, sem orientação adequada e nem ela nem nós sabíamos o que fazer nem como fazer. Chegou cansada, pálida e murchando. Depois de poucos dias, de repente, pra estufa ela voltou. Minha outra flor se doou, se rasgou, se escancarou. Ia lá todos os dias, banha-lá, penteá-la, levar aconchego.

Eu fiquei, sofri, chorei e esperei. Queria muito ir mas não podia, não conseguia, só sofria; fui uma única vez, arrastada, cansada e desesperada. A doença me acabava.
Minha flor Mari e seu pai, iam sempre. Até que chegou o dia: minha flor Chris se foi, ficou.
Minha flor Mari caiu, murchou, desmaiou. Sua irmã meio mãe, se foi, não voltaria mais, nunca mais. O pai não entendeu, olhou e perguntou:
- Como assim, doutor? Ficou?
- Sim. Nós a perdemos.

O André não entendeu, ninguém entendeu. Nós a perdemos, ela não volta mais.
Minha flor Mari e seu pai correram, leram documentos buscando explicações, beberam, se anestesiaram, choraram. Em constante aflição, ficaram esgotados. Todos se perguntavam: o que aconteceu?

Nesse jardim ainda existem muitas flores, mas sempre faltará uma. Na terra ficou um buraco que queima em meu peito, brasa que tange minha alma. É luta para que se aceite o luto. A Mari é lutadora, guerreira, flor viçosa, saberá criar suas duas pequeninas flores, saberá cuidar de sí e do fruto de sua flor-irmã que foi arrancada do meu jardim.

Minha filha se foi

Dor profunda, pedaço arrancado de mim.
Cratera sangrando, corroendo cada canto, cada pedaço de mim.
Pedaço dela, pingo de gente Cauê, chorando, sofrendo, perguntando, chamando pela mãe.
Ando pela casa: sapatos, bolsas, vestidos. Simplesmente não atino.

Cada canto, cada coisa. Como dói.
Peito esmagado, dilacerado. Tristeza, saudade.
Choro sem parar, sem trégua, mas as lágrimas não caem; estão presas, amarradas no medo e na solidão; estão presas na única certeza que tenho: ela se foi para sempre.

Sem despedida, sem beijo, sem boa noite.
Nunca mais o bom dia, as conversss e os planos.
Nunca mais sua gargalhada, seu sorriso maroto.
Cratera profunda, enorme. Pedaço arrancado de mim.