terça-feira, 25 de setembro de 2007

Flores no jardim

Haviam duas flores no meu jardim. Flores que foram plantadas com muito amor, amo-as demais. Nasceram diferentes, cada uma com seu jeito e com um intervalo de tres anos entre os nascimentos. Reguei essas flores, alimentei, fiz tudo que achava estar certo, errando em algumas coisas, acertando em tantas outras.

Há pouco tempo, uma delas foi arrancada do meu jardim. Levaram-na para uma estufa escura, sem água para sete tanta, sem terra e sem sol: um lugar escuro, cinzento e gelado, cheio de flores secando, murchando e mal cuidadas; um lugar cheio de homens de branco, muitos deles frios, malditos, que se acham no direito de brincar de aprender. Deixaram minha flor secando, sem abri-la para matar o bicho que sugava sua seiva, deixando assim seco seu caule.

Minha flor voltou para o meu jardim com medo, assustada, sem orientação adequada e nem ela nem nós sabíamos o que fazer nem como fazer. Chegou cansada, pálida e murchando. Depois de poucos dias, de repente, pra estufa ela voltou. Minha outra flor se doou, se rasgou, se escancarou. Ia lá todos os dias, banha-lá, penteá-la, levar aconchego.

Eu fiquei, sofri, chorei e esperei. Queria muito ir mas não podia, não conseguia, só sofria; fui uma única vez, arrastada, cansada e desesperada. A doença me acabava.
Minha flor Mari e seu pai, iam sempre. Até que chegou o dia: minha flor Chris se foi, ficou.
Minha flor Mari caiu, murchou, desmaiou. Sua irmã meio mãe, se foi, não voltaria mais, nunca mais. O pai não entendeu, olhou e perguntou:
- Como assim, doutor? Ficou?
- Sim. Nós a perdemos.

O André não entendeu, ninguém entendeu. Nós a perdemos, ela não volta mais.
Minha flor Mari e seu pai correram, leram documentos buscando explicações, beberam, se anestesiaram, choraram. Em constante aflição, ficaram esgotados. Todos se perguntavam: o que aconteceu?

Nesse jardim ainda existem muitas flores, mas sempre faltará uma. Na terra ficou um buraco que queima em meu peito, brasa que tange minha alma. É luta para que se aceite o luto. A Mari é lutadora, guerreira, flor viçosa, saberá criar suas duas pequeninas flores, saberá cuidar de sí e do fruto de sua flor-irmã que foi arrancada do meu jardim.

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