segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Lembrança

Uma pequena homenagem que faço ao meu amor que tão cedo partiu, partindo meu coração.
Antes de perder minha filha, já me sentia no fundo do poço e sequer sonhava que um dia sairia desta escuridão. Onde achar alguém que me retirasse? Buscava já há longos dez anos ajuda para sair desse lugar. Mas... me enganei quando pensei que fosse o fundo pois quando minha filha partiu, aí sim, desci às profundezas desse lugar: escuridão total, sequer um filete de luz, nem mesmo uma lamparina ou um simples vagalume.
Pensava que, assim que saísse desse poço, reuniria meus amigos, as pessoas que amo, que me ajudaram e foram solidárias, enfim, que estiveram comigo. Imaginava um encontro onde cada um fizesse algo que lhe fosse prazeroso: cantar, dançar, qualquer coisa e que eu pudesse mostrar meu sofrimento: falar dessa perda, dessa dor desesperada, malvada, cruel e desenfreada.
Perdi meu pai, primos e tios. Nunca pensei que pudesse perder uma filha. Nunca, nunca imaginei! Sofri demais por amor. Passional que sou, já me descabelei, me doei, corri atrás, me humilhei e hoje percebo que desse amor pode se perder muitos, mas a dor, essa nunca será a da perda de um filho. Cada dor é única, não tem raça nem credo, não tem cor. Mas essa, essa corrói, dilacera; profunda, te joga ao chão.
Pouco tempo depois saí dessa escuridão: escalando, me agarrando, me arrastando e arranhando. Saí da escuridão e segui o filete de luz que lá fora, eu vislumbrava. Senti o sol, o frio, e a chuva me encharcando me chamava de volta à vida. Renasci e então me perguntei: precisava minha filha partir para que eu voltasse?
Decidi que esse encontro seria em casa, onde moro com as crianças, com a Mari, com o Zé e o Stefan. Onde morava a Chris, com jardim, flores e muito espaço. Senti essa necessidade e quero dividir com vocês a minha dor, que pode ser que diminua um dia. Mas minha saudade, essa sei, será eterna...

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