terça-feira, 2 de outubro de 2007

Feliz Natal

Não queria nada. Bebida nem comida, sequer possível serenata. Não precisava mesa farta nem frutas adocicadas, não precisava roupa nova, presentes nem cabelos arrumados.
Podia ser calça furada, chinelo de dedo, cabelo desgrenhado. Feijão com arroz, bife quase queimado, e uma salada bem temperada como você gostava. Qualquer toalha, pratos sortidos e pequenos, copos de requeijão.
Por que só hoje eu vejo que poderia ser assim? Como se pode saber que estando todos juntos, que é o que importa, poderia ser tudo mais simples? Só mais uma data, só mais uma noite que no dia seguinte vai encontrar mais um dia, como qualquer outra noite encontra o dia seguinte. Por que precisa alguém ausente pra gente perceber que tudo poderia ser diferente? Tudo simples, mas com você aqui! Quando não falta alguém tão amado, come se muito, bebe-se bastante, as pessoas se maquiam e põe roupa bonita, compram presentes. Afinal, não se pode saber que um dia, e sempre haverá um dia, vai faltar alguém...
Alguém que se foi há muito tempo. Alguém que se foi há pouco tempo. Alguém que se foi há pouquíssimo tempo. Que festa é essa? Aniversário de Jesus? Que festa é essa onde piscam luzes em árvores de Natal, nos prédios, nas portas dos comércios, piscam na cidade, no país inteiro, no mundo todo? Que festa é essa onde se come muito enquanto milhares de seres humanos estão abandonados?
Quando um filho se vai para não mais voltar pode se ter mesa farta, banhada a ouro e em cima dela lagosta e caviar. Tudo terá seu próprio gosto. Sempre teremos pessoas ausentes e continuaremos a ter, as noites de Natal continuaram chegando. Mas com um filho ausente, arroz com feijão será suficiente.

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