Meus olhos se abrem acordados pelo susto... a Chris se foi!
Vejo-a naquele caixão e enlouqueço quando lembro seu corpo mal ajeitado. O que isso importa agora? Sua vida não estava mais ali. Roubaram-na naquela cidade escura e fria, naquele imenso matadouro.
Quanta crueldade fizeram contigo, meu doce. Que maldade te mandarem pra casa doente, morrendo, enganaram a todos fazendo-nos crer que tudo estava bem. Mentiras, tudo mentira!
Malditos, todos malditos! Pais, filhos, tios, primos, sobrinhos ou irmãos. Católicos, evangélicos, espiritas, ateus, cristãos, judeus, budistas, hari krishnas, quantos são eles? Mostra pra mim filha! Quero ver um a um, olhar nos seus olhos, entrar em seus cérebros. Será que eles tem, será que pensam? Será que dormem à noite, conseguem repousar em paz? Se vestem de branco e andam apressados, entram nos quartos aviando receitas. Alguns, de repente, até sorriem, mas brincam de faz-de-conta.
Vem meu amor, senta ao meu lado e conta para mim. Quantos foram, quem são eles? Te abriram e quando fecharam sabiam que estava acabado, sabiam que o fim estava chegando...
Na tentativa de se eximir, disseram que você fazia teatro. Queria Coca-cola, dormir um pouco para descansar de tanta dor? Pediu um Diazepan? Tanto tempo sem dormir! Pediu um pote de gelatina? Estava exausta, lutou sem parar, sofreu cada minuto de todos aqueles quarenta dias.
Te vejo na porta de calção azul:
- Mãe, me leva pro hospital, não aguento mais de dor.
Todos dormiam, nem recado deixei. Fazia teatro? Por que não estava ao palco? Nem vi a cortina se abrir!
O telefone tocou, era seu pai. O espetáculo havia chegado ao fim e a platéia permanecia na calçada. Mas não era porta de um teatro, era do matadouro. Quando a Mari chegou, pensei que ainda podia dar certo, vai dar certo! A casa cheia, o desespero, a dor. Não gritava, não chorava nem morria, andava pela rua com meu corpo de agonia, com o coração rachado. Eu já sabia, ela não voltaria mais.
O telefone tocou, era seu pai. O espetáculo havia chegado ao fim e a platéia permanecia na calçada. Mas não era porta de um teatro, era do matadouro. Quando a Mari chegou, pensei que ainda podia dar certo, vai dar certo! A casa cheia, o desespero, a dor. Não gritava, não chorava nem morria, andava pela rua com meu corpo de agonia, com o coração rachado. Eu já sabia, ela não voltaria mais.
Lembra daquela senhora, na cama em frente a sua, enquanto você se recuperava da cirurgia? Você dizia: coitada dela, mãe, sente tanta dor!Sua generosidade nunca te abandonou. Mesmo no meio de sua dor, enquanto sofria, lamentava a dor vizinha...
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