terça-feira, 2 de outubro de 2007

Amanheceu

O dia está chegando mas o céu ainda está cinzento com o sol se preparando para chegar. E meu peito, até quando vai suportar?
O pássaro cantador já está voando pelo quintal enquanto a casa ainda dorme.
O meu sono já se foi. Acordo com você todas as manhãs, deito com você todas as noites.
É a lei da natureza, é a vida... mentira!!! A lei da vida é viver bastante, a lei da natureza é os pais irem antes.
Onde você está? Dorme? Canta Rita Lee e Gal? Assiste às vídeo cassetadas junto com o Cauê? Gargalha solta no sofá? Que delícia te escutar, ver seu lado criança se manifestar. Onde você está?
Meu peito bate forte, meu corpo treme. Já são longos e penosos nove meses de saudade. Que vida mais estranha! Seu sobrinho Leon chegou ontem à noite. Um dia apenas separando a data da chegada da vida com o dia seguinte marcando nove meses de sua partida.
O céu já está mais claro e a casa ainda dorme. Meu peito chora, a saudade aflora e traz a dor que corrói.
Trouxe comigo para o quintal o livro Perfume de Eliana, escrito por Alice, sua mãe, que a perdeu em um acidente de carro aos vinte e poucos anos. Não consegui ler A vontade de falar com você chegou, imperiosa.
O jardim está lindo! A figueira de seu pai, frondosa, majestosa.; os brincos de princesas, ou lágrimas de cristo, estão maravilhosos; as rosas, vermelho vida, vermelho amor, esplêndidas. As margaridas ainda não vingaram. Espero, ansiosa.
Vem chegando o azul do céu e a casa ainda dorme. Que silêncio bom!
Falta meu bichinho, o teu doce frutinho.
Seu pai perdido, sofrido e sem rumo. Sua irmã cansada, exausta e ansiosa. Todos buscando você, buscando viver, na busca do por que.
O dia já amanheceu. Você já acordou? Sempre quis dormir um pouco mais e o Cauê nunca deixou. Hoje está estabelecido que dormirá para sempre. Por quê? Me diz, quem decidiu? Poderia dormir aqui, eu levaria o Cauê para passear. Você dormiria em paz. Mas não para sempre. Não precisavam te levar.
O dia chegou e a luta vai começar, vem me ajudar, vou comprar Coca-Cola, posso fazer um pão. Você não tem que estudar? Filha vem pra casa almoçar. E se o Flávio te ligar? Terá tempo para conversar? Ah! Meu amor, onde você está? Diz logo, a Mari pode te buscar. Não, não quero resposta, eu sei onde você está. Só preciso te encontrar, acariciar seus cabelos, apertar suas bochechas...
O que sei, só o que sei, é que viva o quanto eu viver minha pergunta ninguém irá responder: por que?

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