quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Pai!



- Pai! Pega na minha mão... minha mãe me abandonou!
- Não, filho! Ela precisou partir...
- Pai! Me abraça, me faz um carinho. Minha mãe se foi!
- Eu sei meu filho, mas eu estou aqui. Nunca eu vou te deixar.
- Por que ela partiu? Não me amava mais?
- Te amava muito, filho, mas precisou partir. A morte chega à qualquer instante e carrega quem amamos e nos ama.

- Pai, NÃO CONSEGUI AINDA CHORAR A AUSÊNCIA DELA, meu pequeno coração está doendo...
- Talvez eu tenha pecado, não te ajudei à ser ajudado para que entendesse que sua mãe não te abandonou...
- Pai, agora é tarde! Você acaba de me perder.
- Filho! Não se vá, não faça isso comigo! Eu preciso de você...
- Não, pai, quem precisa de amor agora sou eu, você nunca entendeu.
- Será que poderá algum dia me perdoar?
- Não se culpe, pai. Damos só o que aprendemos e temos para dar. Adeus, pai!
- Não, filho, ainda não é adeus!
- Só vai depender de você...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

trecho de email do Deny (namorado da Chris na adolescência)

Oi, Mari!
Então... tá dificil da gente se encontrar pela vida para trocarmos uma "idéiazinha", né?
Até pouco tempo atrás estava com um negócio atravessado na garganta, meio sem saber como falar com voce e até mesmo sem saber o que falar.
Pode acreditar, quando soube o que tinha acontecido com a Chris, nossa...
Fiquei sabendo pela minha mãe que tinha conversado com sua tia.
Passei um bom tempo MUITO MAL... depressão total... ficava dias me perguntando "mas como", "por quê", "não é justo"!
Pode acreditar Mari, mas até agora não estou muito conformado com esse infortúnio que o DESTINO nos aprontou, ou seja, tolher a vida de uma pessoa na flor da existência... tão boa, expressiva, linda por dentro e por fora, de qualidades ímpares, dona de um jeitinho de ser só dela...
Atualmente só tem me restado orar e torcer para que onde quer que ela esteja, que fique em paz, pois isso com certeza o DESTINO não pode lhe faltar.
Espero que voces encontrem forças e equilibrio suficientes para lidar com essa enorme perda. Que consigam, como eu, perpetuar a memória dessa menina extremamente MARAVILHOSA , pelo resto de nossas vidas.
Recordo com saudades de nossa adolescência, período de altos e baixos mas repletos de emoção e adrenalina à mil. Putz, sua irmã foi e é muito importante para mim. Nos conhecemos numa fase muito importante de nossas vidas, assim acredito eu.
Torço muito por voces, mantenha contato.
Beijos no seu coração.
DJJ.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Carnaval, festa de dor

06/02/05

O carnaval passado chegou, como sempre: samba, alegria, festa popular. Chegou nas ruas, nas casas, chegou no mundo.
O carnaval passado chegou com a dor a perda, trouxe a loucura. A festa popular que em um passado distante era gostosa e ingênua, hoje é pura loucura. Descaso, pouco caso e agressão. No meu caso, dor, angustia e aflição.
No carnaval passado, numa segunda feira, a folia corria solta e os trios, corriam elétricos. As musas sem roupas mostravam seus créditos.
No meio da folia, minha filha partia para sempre. O povo bebia, cantava, brincava nos salões. Dentro da UTI, um médico lutava contra o tempo. Pouquíssimo tempo. Lutava para que minha filha acordasse e soubesse que era carnaval. Mas o tempo não deixou. A morte a levou.
Do lado de fora, olhou nos olhos do pai e da irmã: ela ficou!
Como assim? - o pai perguntou.
- Ela se foi, nos a perdemos.
A irmã desmaiou. Acordou, se rasgou, desesperada...
Na segunda feira de carnaval o telefone tocou. Nossa Chris se foi para sempre. Eternamente.
Já faz tempo que não gosto de carnaval. Hoje, eu não suporto carnaval. Hoje não quero mais Natal, não quero mais carnaval, não quero samba, não quero mais fantasias. Hoje quero o carnaval distante, longe dos restos dos meus dias. Hoje, nesse carnaval, só quero gritar minha dor.
Por quê, por quê meu amor? Essa pergunta não me faço hoje, nem mesmo a fiz só no Natal, ela está cravada no meu coração, tangida em minha alma. Será para sempre e sei que nunca terei a resposta.

Às vezes o escuro causa panico, sensação de perda e de abandono. Nunca devemos permitir o escuro em nossas almas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pensando em encerrar o blog

Penso nesse momento, dia 14/11/07, em escrever algumas coisas sobre a vida de minha menina. Depois, não sei se colocarei mais coisas ou se vou terminar com essa pequena estória. O tempo me dirá. Saudade, muita saudade!


Me disse um certo médico, aos meus dezesseis anos de idade, que meu útero era infantil e reverso, portanto, não engravidaria sem tratamento. Aos dezessete anos e quatro meses de vida, engravidei de minha querida e adorada Chris.
Que bom que aquele médico estava errado! Que triste que outros médicos estavam errados! O primeiro, com seu erro, me deixou muito feliz; os outros, me deixaram ................
Não sei mais de palavras.

Minha pequena nasceu Chris, pois sabia que qualquer outro nome que começasse dessa maneira lhe traria Chris como apelido. Nasceu cabeluda, cabelos negros, olhos grandes parecendo jabuticabas.
Primeira neta, primeira sobrinha, tantos vestidinhos lindos dados pela tia Dalva. Meiga, doce e gentil, carinhosa, risonha e chupeteira.
Chris tinha três anos, quando cheguei do hospital com sua irmã, Mariana. No mesmo dia, lá veio ela carregando a irmãzinha com suas pequenas mãozinhas, segurando-a por debaixo de seus pequenos e frágeis bracinhos, dizendo toda feliz:
- Olha! eu trouxe o neném pra você!
Atravessou o pequeno corredor e chegou em meu quarto, as fraldas caindo. Gelei! Sussurrei aos ouvidos do pai: Meu Deus! O que a gente faz?
- Calma, não fale nada.
Ela me entregou a Mariana e imediatamente minha cabeça começou a doer. Levei algum tempo me recuperando do susto...

Eram amigas, só que com tres anos e pouco de diferença, a Chris não gostava de levar a Mari aos passeios. Normal entre todos irmãos que se prezem, os mais velhos sempre acham que são adultos e que os menores irão atrapalhar.
Muitas peraltices, passeios, viagens. Levava uma vida agitada e saudável. Com menos de dez anos, deixei que viajasse com uma família amiga para Alagoas! Logo depois, vieram as viagens para o Recife, na casa da tia Sônia...
Adoravam aos Menudos. Ela e a Mari foram ao show. Apavorados, permitimos. Fomos liberais demais, pais jovens e achando tudo natural. Mas tudo cercado de muito diálogo, carinho e atenção.
Ciganas depois de minha separação, acreditava que seria breve, mas não foi assim. Moraram com a avó, com a tia, depois voltaram pra mim e finalmente de novo para o pai. Que bom que um pai de verdade, amigo, companheiro, decente, amoroso, carinhoso. Um pai.
Aos dezesseis a primeira paixão, um grande amor: Deny, um garoto travesso, as vezes muito moleque. Ficava apreensiva, vigiava e um dia acabou. Em uma das brigas ela se sentou no portão do prédio e chorava, chorava muito. Lá de cima eu observando e sofrendo com ela. Então, escrevi um poema, do qual só recordo algumas palavras:

Por que

Por que só ao choro da morte ninguém se espanta?
Por que ao choro do amor os vizinhos e todos que passam se assustam?
Melhor chorarmos muito de amor, por amor, do que tão cedo chorarem por nossa partida, chorarem o choro pela nossa morte.

Quando de minha separação, foi irmã-amiga e um pouco mãe de sua irmã.
Conheceu o pai de seu menino Cauê, quando tinha mais ou menos vinte e dois anos. Nunca se casaram, ela morando com o pai e ele com a mãe dele. Pouco antes de sua partida, me confidenciou:
- Quero morar só com meu filho, estou cansada do André.
Sua decisão não foi respeitada por médicos negligentes, omissos e relutantes.
Tinha voltado à estudar, queria se formar, criar seu menino e fazer dele um ser feliz. Mas não é o que está acontecendo hoje, com tanto sofrimento.
A Chris foi uma criança adorável, uma jovem alegre, uma pessoa generosa, uma mulher consciente, uma filha amorosa, mãe cuidadosa e gentil.
Um caminho interrompido, ceifada de nossas vidas, arrancada de seu filho por descaso, puro descaso, negligencia, prepotência e falta de humanidade.
Ser médico, na maioria das vezes, é ter status, claro que para os privilegiados.
Se foi, assim, se foi, uma “simples cirurgia” que se transformou em um inferno em vida, quarenta dias de sofrer e depois partir, para sempre, pra nunca mais, nunca mais! Nunnnnnnnnncccccccccaaaaaaaaaa mmmmmaaaaaiiiiissssss!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eternamente sem ela!!!!!

Em tudo que escrevi joguei minha alma, meu coração, derramei todas as lágrimas que tive e ainda as derramo: pela manhã e a noite, nas madrugadas de insônia, na rua, na condução, dentro de toda minha revolução que começou no dia que se foi e sei que só se acabará quando me for pra te encontrar.
Te roubaram de mim mas nunca roubarão o amor que sinto por você.
Filha, te amo!

sábado, 10 de novembro de 2007

O primeiro dia

03/11/06

Espero que hoje seja o primeiro dia do restante dos que terei ainda.
Espero um renascer, mesmo parecendo enlouquecer.
Portas não se fecharam para mim e nem por mim.
Esconde-esconde será somente brincadeira de criança.
Quando a solidão chegar, será bem vinda, gostarei de estar comigo.
Os fins de semanas, espero sejam bem aproveitados e os de semana também.
Quero minha alma a sorrir bastante, meu coração só disparar por amor e muita alegria.
Espero que hoje possa ser o primeiro dia dos que me restam por aqui.
Dias esses em que abrirei as janelas, a porta que dá para a rua e que leva meus passos ao encontro de amigos.
Hoje espero, de fato, que seja o primeiro dos dias que me restam por aqui.
Que seja esse o primeiro de milhares que espero ter ainda, com força, vontade e garra de luta.
Dias de lua, de sol e estrelas.
Dias de abraços e beijos.
Dias de vitórias e menos sofrimento e que eu consiga entenda o que se faz necessário entender.

Movimento

Que se perceba no chamar o caminho que irá seguir.
Que desacredite de promessas e se faça desassosegar.
Que busque a bondade e um tanto mais de bondade.
Eterneça o coração e se disponha a perdoar.
Digo a ti talvez o que eu precise escutar.
Penso no que te passo a falar.
Busco de fato o que espero ainda acreditar.
Sonho acordada fazendo planos e espero faze-los acontecer.
Pesadelo, acordando assustada.
O corpo tremendo, a cabeça pesada, chega a revolta com tudo e todos.
Preciso de um pouco de descanso, um canto com paz.
Que eu me encontre logo e que me perceba podendo, fazendo rápido o tempo do amenizar e do sorrir.
Que logo eu possa entender que nunca dois e dois cinco se fará.
E que eu entenda logo que nunca mais ela irá voltar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Barulho no silêncio

O barulho, os gritos e desavenças, maltratam o silêncio.
Ele não se aquieta, o silêncio está barulhento.
Na pouca calma que o dia traz a cabeça não consegue descansar.
Pense e repensa, faz perguntas e busca respostas.
Saio pra rua, estranho tudo, falam muito.
Barulho da vida, da luta, do viver e correr.
Quero silencio e não sei onde encontrar.
Não quero mais viver mas não quero partir.
Estou no laço do repetido, cansada exausta, aprisionada livre. Presa na dor que insiste em doer, na saudade que insiste em me enlouquecer.
Preciso reagir, tenho filha, meus netos, mas uma pessoa ou mesmo muitas, não substitui outra. Uma perda não se compensa, cada ser é unico e nada mudará isso.
Sei que querem me ajudar, mas ninguém pode nada.
Dicerto na loucura, viajo ao passado.
Incompreensivel, inimaginavel, insuportável.
Me deixem. Isso tudo é só meu!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Viver

Viver é bom mas dói.
Se chamusca, se enruga, nasce verruga.
Viver é bom, se ama, se constrói e se grita.
Lapida-se a vida. Mas, às vezes, o fogo destrói.
Quando se nasce mandam flores, quando se morre também.
Levam nossos filhos, colhemos rosas, plantamos margaridas e fumamos mais. Se dorme menos e a vida se arrasta.
É bom viver, a vida é viva e a morte está aqui. A dor não passa, o choro não cessa e a saudade cresce.
Vem o desespero, querer alguém que nunca mais teremos. Nem os sorrisos, nem os beijos e nem os afagos, a alegria do bom dia, o alegre do boa noite. Nada de pedir desculpas depois de uma briga, ofertar uma colher de mel quando se fica de bem.
Quero abraçá-la, agora fico de braços abertos e ela não está.
O fato é que a vida é sim, boa. Mas nunca quando nos roubam um filho.

domingo, 4 de novembro de 2007

Promessas

A cabeça sem trégua e o tempo com pressa.
Um martírio, um delirio, um corpo entregue.
Surpresas, vontades, mas eu inanimada, inerte.
Choro no peito, na alma e na face.
Um pequeno gosto com muitos desgostos.
Solidão, silencio na escuridão.
Afazeres e poucos prazeres, renitência e pertinência.
Vozes, falas doces, risos contentes.
Eu perdida, acuada e assustada.
Marcada eternamente: viver, mover, me mexer, morrer ,não morrer, viver.
Festa, passos, copos cheios.
Reencontros e desencontros, conhecer.
Música, dança, canto
Poema, prosas e abraços.
Busco, penso, peço e não peço.
Preciso, quero mas não posso.
Corpo jogado, cabeça cobrando, esperança com medo.
Dia partindo, noite chegando, desassossego, socorro!
Chegou alguem? Chamou por mim?
Nada acontece.

Grito

Quero dar um grito dilacerado, escancarado! Um grito grunhido, desesperado.
E que em face disso o surdo volte a ouvir, o cego volte a enxergar e o cadeirante ande.
Um grito tamanho, onde duros corações voltem a palpitar, que olhos já secos voltem a verter lágrimas, que o bêbado saia do bar e o viciado pare de se drogar, que pequenos meninos abandonados tenham um lar.
Quero um grito limpando meu peito pois seu peso me faz cansar.
Um grito que corra com o vento, até que chegue ao mar. Que rache rochas, apague dores e suspiros. Um grito capaz, que varra pegadas de tanto mal amar.
Um grito estalante, assustador, e que demore outro a chegar. E que, então, sobre espaço para muito gargalhar...

Não pensei

Imensidão de palavras mas poucas para expressar o que sinto.
Pensamentos afoitos que se misturam na ansiedade desesperada.
Isnpiração que aflora e some, em instantes de pensamentos tumultuados.
Um cair pesado de chuva, um filete de vento pela porta semi-aberta.
O peito apertado, um doce acalanto pedindo aconchego.
Uma leitura afoita, curiosa, que no seu findar causa angústia e medo.
Uma vida parada, um corpo preso sem obedecer ao comando, no desespero de sorrir, trabalhar e voltar à viver.
Um mergulho profundo na espera da cura de uma doença que maltrata demais, a espera de outra cura que nunca se fará.
O tempo correndo, os anos se findando, rápidos, encurtando a vida. Quantos forem os anos que me restem, neles carregarei essa dor...
Quando a chuva se ameniza, ficam goteiras pesadas e latejantes e a noite já se faz fresca. Mas o peito ainda se faz inquieto.
Devaneio, castelo, ousadia, perplexidade, uma espera desse tempo que não pára e não me traz o tempo de paz.

Busca

A paz que busco não é pomba branca. É calma, doce e cheia de compreensão.
É a mudança da cara do meu coração que se encontra vermelho com manchas negras, soltando lágrimas com matizes de dor.
Hoje, sou metade de mim. Pensava ter perdido um pedaço e hoje percebo que não foi assim.
Já seria demais arrastar minha doença em busca da cura. Agora, me arrasto também buscando paz para essa dor.
Ser inteira, viver, já se faz luta feroz. Ser metade é correr os dias se colando a cada minuto, com a alma quebrada, o peito preso em cordas, o choro chegando a cada piscar de olhos, perdidos no nada.
O coração sangra, as imagens são recorrentes: primeiro aquele caixão maldito e seu sono eterno, depois ela chegando em casa, encontrando seu menino em sorriso escancarado, estendendo suas roupas no varal, limpando o jardim sentada em pequeno banco e depois partindo em uma de suas voltas para aquele hospital-calabouço...
Sou mistura de esperança e desespero, sou pessoa lutando em desmorono, com medo da morte, querendo morrer, acreditando sem nada entender.
A paz que busco é entendimento, verdades, harmonia e risada.
Não é pomba branca, é pássaro gigante, dourado, orelhas de prata, garganta de pedras coloridas, é onda de mar batendo em rochas de algodão, pássaro com bico de espuma soltanto bolinhas de estrelas, magia de alegria, sem gritos nem portas batendo, sem flechas envenenadas.
Vislumbro um caminho mas não sei ainda qual será, busco na mente pois meus passos ainda se apequenam dentro das dores que carrego.

Não sei cantar

Preciso que me empreste a tua voz.
Preciso de uma melodia de saudade, de esperança. Um acorde de renascer, um refrão de luz chamando mães decepadas a ouvirem uma canção de aceitar, mesmo sem entender.
Aceitar uma canção de saudade como companheira eterna.
Acender uma vela, esconder os retratos ou buscá-los a todo momento.
Doar, guardar as lembranças, dizer preces e buscar respostas: cada coração dirá o que fazer.
A canção nos chegaria e cada mãe que a ouvisse saberia que estamos juntas nessa estrada e que, mesmo sem nos conhecermos, saberemos como está a alma de cada uma de nós.
Mesmo sem saber o porque, saberemos que isso não importa. Todas entenderam que a dor é universal, atravessa os oceanos e chega a qualquer mãe ou pai.
Quero uma voz emprestada, como ajuda para descarregar tanta dor, dizer bem alto aos céus que tenha compaixão pelos pais e derrame um pouco de luz em peitos tão cheios de fúria.
Quero uma voz, um anjo de luz que traga o sol em almas geladas de tristeza.
A natureza é linda e é sábia, mas também erra. Carregar filhos é deixar pais perdidos, como chuva sem água, estrelas sem brilho, corte sem sangue e chorar a dor sem lágrimas. É gritar sem som, escutar sem ouvir, enxergar sem ver, sorrir sem boca e caminhar sem pés.
Calo agora minha voz, espero a sua emprestada para gritar e dizer que só me resta aceitar. Pois entender essa perda, jamais!

Vida! Que se faça viva!

Que me pese tanto a vida, terá o fardo que diminuir. Com tantos erros já cometidos, chegou a morte em minha vida, levando minha filha.
Que me acredite vencendo, a saudade nunca se acalmará. Peço, ao menos, que a dor possa se abrandar.
Que já me pese tanto a vida, que minha saúde possa melhorar.
Mesmo que eu já não espere tanto gargalhar, que possa pelo menos sorrir.
O passado já se foi e nunca a trará de volta.
Peço meu fardo mais leve pois é muito peso para carregar.
Tantos desencantos se fizeram, tantos chamegos se findaram.
Vida que se fazia viver, rir, se escancarar.
Vida que hoje traz despedaços, me tirando o riso, o sono e o prazer.
Que me pese menos os meus dias, que roubem menos os nossos sonhos.

Fraca força

Guerreio e creio que consigo, fraquejo e caio.
Levanto, esperneio, coloco tudo no lugar. A força, que é fraca e pouca, volta a me puxar.
A força forte, do outro lado, me arrasta, desmancha minha vontade de lutar e de novo joga tudo pelo ar.
Chega um novo dia, de acreditar e se levantar. Pés a caminhar, e logo os pensamentos começam a fraquejar.

Espanar as teias, não querer mais se enredar!!
Fazer a força forte e se por à navegar!!
As ondas são gigantes o vento, forte. Fazer das braçadas um braço de mar...
Jogar a rede sem se enroscar, comer o peixe sem se magoar.
Olhar o dia de sol, brindar a chegada da chuva, prestar atenção à letra da música.
Perceber o abrir da rosa, acreditar na valsa estelar.
Pegar uma criança no colo, lhe devolver o sorriso perdido.
De dentro da cartola, nenhuma pomba irá voar.
De dentro de nossos corações, muito amor pode brotar.
De nossos olhos, olhares cúmplices podemos dar.
De nossas bocas dizer o necessário e muitos sorrisos presentear.

Eternidade

Enquanto pulsa meu coração, vida tenho. Que vida tenho?
Durmo, acordo, desfaleço, sempre em tropeços.

Chega de crenças, procuras e respostas. Já o que sofro se faz bastante para meu coração. Qual vida hoje tem minha menina? Nenhuma. Vive somente em meu coração.
É para sempre, é finito, não quero mais nada buscar.
Conversava com ela todos os dias pedindo que viesse me encontrar e sei que jamais deixaria de vir se o pudesse fazer, não me deixaria tanto sofrer.
Começo, meio e fim é o que temos nesse mundo e a unica certeza é que todos iremos findar. Chegou o dia em que partiu, só no meu coração poderá estar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Imagem.

Sào duas imagens,qual seja a primeira,logo chega a segunda.
A cada dia de vida,um instante desprevenida,um momento para descansar,chega a primeira,logo em seguida vem a segunda.
Primeiro seu choro de medo e dor,em seguida seu sono eterno e profundo.
Qual seja a primeira,logo em seguida chega a segunda.
Algumas imagens alegres e de-repente a raiva cresce,ve-la sorrindo não combina em ve-la partindo.
Fico me perguntando,como éssa dor não acaba?
Quando essa saudade termina?
Sei da resposta,e a noite aflora,e o relogio não para,e o dia clareia e meu peito acelera,e a vida me espera.
Quando a primeira imagem aparece,em seguida chega a segunda,procuro as imagens alegres,mas isso não faz com que meu coração não adoeça,e que a dor sempre em mim não me padeça.

desespero malvado.

Ontem acordei em desespero,morria de saudade de voce!
Depois que partiu,estive em sua pequena cidade apenas uma vez.
Ontem,decidi la voltar,e levei seu bebê comigo para ele saber onde voce estava.
Eu ausente ainda da nova realidade,precisava ir,pensava muito nisso,então resolvi enfrentar.
Pensava que pudesse resgatar a falta de vida que eu tinha,quando te roubaram de mim.
Não imaginei nunca que um dia perderia uma filha(ninguém imagina o pior)e que éssa dor seria infinita.
Nunca pensei que sairia na rua sem dentes,com roupas ridiculas,sandalias encardidas,óculos quebrados.
Eu não precisava olhar para as pessoas para saber que me olhavam e se assustavam.
Nada disso me importava,mal conseguia guiar meus passos para chegar onde voce estava.
Eu precisava disso,saber onde voce estava,que jamais poderia te ver novamente,e mais ainda,nunca mais poderia traze-la de volta.
Marina insistiu para que comprassemos flores,meu coração arrebentado não quis.
Voce não poderia recebe-las,sentir seu perfume,agradecer e sorrir.
Néssa pequena cidade tem muito choro e muita dor,mas também tem piada comércio,carros bonitos e gente bem vestida.
Tem também sujeira limpeza,maldade e bondade,sensibilidade e frieza,tudo que tem em qualquer lugar,pois a vida esta perto da morte,e a morte presente na vida.

domingo, 14 de outubro de 2007

Na noite, assustada

Esbarrando nas pontas de galhos de árvores, percebendo cores viçosas em um jardim de esplendor.
Tremia todo seu corpo, sentia medo da noite, tarde já se fazia.
Seus passos se alargaram com o encanto de pensamentos. A noite era fria mas do seu rosto o suor escorria.
Enlaçava seus dedos, trepidavam seus pés. De canto de olho espiava a esquina, um duende acreditou que via.
Olhou de completo, um vigia se ia.
Aflita, não entendia, como podia tanta agonia?
Buscava somente chegar, se jogar na cama e poder descansar.
Ficar bem quieta, até tudo passar e sempre se lembrar: homem algum merece esse pesar.

Lágrimas

Vi uma lágrima cair. Não olhava no espelho, mas vi uma lágrima cair.
Os olhos gotejavam enquanto eu as matava com as mãos.
Como podiam ser tão pequenas, como gotas de cristal ou de orvalho, como caiam mansas se no peito existia um temporal? Como podiam ser assim, se lá dentro tudo explodia, as labaredas gritavam chegando na alma e no coração?

Outro coração

Tinha um coração, olhos brilhando, boca pintada, sabia sorrir.
Era um coração rosado, tinha festa e muito amor. Alguém atirou uma flecha, ficou espetado e vive zangado. Hoje tenho um coração pálido, desbotado, sem riso na boca e de olhos fechados.
As batidas, antes sincronizadas, hoje não tem ritmo de nada, se assustam a cada momento da vida.
Antes, bailes e muitas risadas, crianças queridas e muito amadas. Hoje está fechado, batendo em descompasso, desalentado.
Tinha dois pés agitados, hoje estão mancos, foram alvejados. Soltavam faíscas douradas, deles escorriam estrelas em cascata. Onde espaço exagerado, agora muito apertado.
Fechou os ouvidos, cerrou os olhos, emudeceu as palavras.
Dentro do peito passeava, cantava canções. Hoje está acorrentado e a chave se perdeu.

Palavras

Há muitos anos, li um caderno seu por pura curiosidade. Hoje, volto a fazer por necessidade.
Mãe, toda vez que venho aqui, leio seu caderno para conseguir chorar. Esse choro preso, amarrado, que não quer sair. Preciso chorar.

Mãe!! Aonde esta minha irmã?

Dia das Mães - autor desconhecido

Certa vez perguntaram a uma mãe qual era o seu filho preferido, aquele que ela mais amava. E ela respondeu: nada é mais volúvel que um coração de mãe. E como mãe, lhe respondo:
O filho dileto, aquele que me dedico de corpo e alma, é:
O que está doente, até que sare.
O que partiu, até que volte
O que esta cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que esta com sede, até que beba.
O que esta estudando, até que aprenda.
O que está nu, até que se vista.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que se casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que se cale.

E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que ja me deixou, até que o reencontre.

Resto de vida

O tempo que me reste, fiquei resto de vida.
Vida que tinha inteira, agora metade de vida que me resta.
Me arrasto na vida sem ti, agora são suspiros e lamentos na vida que sobra, como sopro de dor em vida chorando.
Tento caminhar, ando devagar. Tento viver, vivo tentando. Ela não volta mais. Sorri pra mim, ainda sai pra estudar, ainda chega do trabalho e cuida de seu menino com amor de mãe. Está em mim, mas não posso vê-la, canta canções que não consigo ouvir.
Que dor é essa? A saudade queima o peito! Fala comigo! Quero te ouvir...

O tempo que me reste, serei resto de dor.

óculos sem pernas, celular sem crédito, boca sem dentes, pele marcada, sandália quebrada, corpo gordo e maltratado, fome insana, angústia profana, saudade indecente, dor lancinante, presente de futuro embaçado, passado marcado, mulher sem amor, carência cruel, amigos longe, netos distantes, mãe sofrendo, irmãs em apuros, carteira vazia, alma latente, coração apertado, sol com frio, prisioneira sem grades, pés ressecados, vontades guardadas, dependente, agoniada, frustada.

O tempo que me reste serei resto de dor.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Chris,

Toda vez que penso em escrever algo, me emociono e não consigo. É muito triste saber que você não esta mais entre nós.
Mesmo a distância, sem te ver por muito tempo, sempre ficava sabendo uma coisinha aqui e outra ali, sabia que estava bem e que um dia ou outro íamos nos encontrar.
Mas com sua partida isso muda tudo; nem fui me despedir de você... e agora só ficaram as lembranças... boas lembranças! Brincamos e brigamos bastante, muito normal...
Lembro que quando brigava com você te chamava de “adultona”, porque você sempre foi mais adulta do que nós e que quando te convidava para uma festa de aniversário, você já avisava logo, só ia se tivesse brigadeiro... nada boba!
Era muito bom... agora ficaram as saudades...
O que nos conforta é saber que você está em um lugar muito bom, com sua missão cumprida e com certeza feliz!
Saudades, Saudades, Saudades...

Sua prima,


Claudia Dol da Silva


10/12/2006

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Viver é show fantástico.

por Ana Paula de Freitas

Eu dedico este texto para a Roseli que perdeu sua filha Chris, a qual amava muito, e que por sinal foi uma de minhas melhores amigas. A morte é a única certeza que temos em vida. Portanto, seja feliz e viva cada momento de sua vida intensamente, como se fosse único. Peça à Deus forças e conforto no seu coração, afinal uma vida se foi mas ainda temos muitas vidas para nos dedicarmos aqui... (irmãos, filhos, netos, marido, amigos, etc...). Que Deus te abençoe.

Viver é show fantástico

Você pode ter defeitos, viver ansioso, chorar e ficar irritado algumas vezes, mas não se esqueça de que sua vida é o maior tesouro do mundo.
Lembre-se sempre de que ser feliz não é ter um céu sempre azul, caminhos sem obstáculos, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem decepções.
Ser feliz É encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor mesmo nos desencontros.
Ser feliz Não é apenas valorizar o sorriso a alegria, mas também refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar as vitórias, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas alegrar-se como os aplausos, mas encontrar alegria na escuridão.
Ser feliz É reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões nos períodos de crise, basta saber aproveitar. Ser feliz Não é uma sorte do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu eu interior.
Ser feliz É deixar de ser vítima ou réu nos problemas, é se tornar o autor da própria história.Ser feliz É atravessar desertos, ser capaz de encontrar um oásis escondido em sua alma. É agradecer a cada manhã pela vida.
Ser feliz É não ter medo dos próprios sentimentos e saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um... "Não". Ser Feliz É saber receber com segurança uma crítica, mesmo que seja injusta. É beijar os filhos, é ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles nos magoem. É deixar viver a criança que cada um tem dentro de si.
Ser feliz É saber admitir quando errou e dizer "Eu errei". É ser o primeiro a dizer "Me perdoe”. É ter sensibilidade para expressar "O que você tem mais de profundo no coração". É ter capacidade de dizer sem medo "Eu te amo".
Faça da sua vida um canteiro de oportunidades. Que nas suas primaveras você seja amante da alegria. Que nos seus invernos você seja amigo da sabedoria. E finalmente quando você desviar do caminho, comece tudo de novo, pois assim você terá cada vez mais amor pela vida e descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. É saber usar suas lágrimas para irrigar a tolerância. Saber usar suas perdas para polir a paciência. Saber usar suas falhas para construir a serenidade. Saber usar os obstáculos para abrir as janelas da sabedoria.
Não desista nunca de si mesmo. Não esqueça nunca as pessoas que te amam. Não desista nunca de quem te ama. Não desista nunca de ser feliz, pois...


A VIDA É UM SHOW FANTÁSTICO

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Portas

Limpas ou sujas. Falamos ou nos calamos, sentimos dores, angustias, decepções, mágoas e raivas.
Abertas ou fechadas, apodrecem e se acabam. Se abrem e se fecham, trazendo alguém indesejável, levando alguém que amamos. Por elas, passam um chato, entram ratos, saem baratas. Por elas, entram crianças felizes e bem amadas, saem outras tantas oprimidas, carentes e medrosas. Entra o sol, entra a chuva, sai poeira e água suja. Mas ela não tem dores, nem amores, não chora nem tem pudores. Fica lá, imóvel, dura, seca e surda.
Por ela passamos eu e você, seja qual for sua cor e seu tamanho, o desenho ou a pintura. Pode ter chave ou cadeado, correntes e trancas. Continua lá, parada, podendo ranger e ser batida.
Lá dentro, por detrás dela, escondem-se dores, gritos e sussurros, medos e loucuras, planos e esperanças, crenças e ceticismo. Nela, nada dói. Não importa se limpa ou suja, se lá dentro ou se lá fora, é ali que mora o medo.

Morte em vida (Dona Ignes)

A morte sentou se à minha frente. hora pálida, hora rouxa e sêca. A boca murcha, o abandono, a própria rejeição. Coração disparado, dores pelo corpo, nas pernas, nas artérias.
Solidão! Rejeição!Abandono!
A cova é igual pra todos: muda a pompa, talvez haja uma salva de vinte um tiros ou a carreata em cima do carro do corpo de bombeiros andando pela cidade; muda o tamanho da fila para o velório, os modelitos dos óculos e a grife das roupas e, talvez, até as cores dos lenços de seda usados para secar lágrimas, as falsas e as verdadeiras.
A cova é igual pra todos e fica a sete palmos abaixo do solo.Antes dela, bastaria uma visita por mês trazendo consigo uma caixa de bombons ou um pacote de bolachas. Quem sabe só um telefonema, uma visita com um pequeno sorriso. A cova é igual pra todos. Nela não caberá pertences, carros, jóias, pinturas ou perfumes franceses.
Sete palmos somente, para o político e o trabalhador, o mendigo ou o banqueiro, o bom ou o indecente.Se não há amor, poderia ser por compaixão, a piedade pelo abandono, pela clausura de uma vida morta. A hora vai chegar, seja você feio ou bonito, alto ou baixo, gordo ou magro, elegante ou mal vestido.
Não tem perdão, não tem por onde. Chega e carrega nos deixando todos iguais.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Pensando

Estranhamente, um dia pensei: não deveria ser assim. Com essa perda tão dificil, sem compreender o que se passou, com essa ausência tão cruel, tomada de dor renitente e saudade permanente, pensei que talvez pudéssemos vir a ser diferentes, pessoas melhores.
Pensei que a dor da morte que acontece na casa do vizinho e leva seu único filho, pudesse me fazer repensar a vida, já que tamanha dor eu jamais sentiria. Mas pouco tempo depois, a morte chegou na minha casa e carregou a vida de uma filha minha.
No meio de tanta dor e sofrimento tive a certeza de que as coisas que nos pertubam deveriam ser grãos de areia perto dessa dor tão devastadora. Mas não é assim que funciona. Fiquei surpresa. Nem mesmo com a morte de um filho se deixa de ser tão mesquinho? Que coisa é essa tão preemente, que afazer é esse tão importante, que nos tira a capacidade de perceber o que é de fato importante? O que é ser humano? O que é ser, humano?
Fato consumado, nem mesmo a morte de um filho nos deixa ser menos feio, menos perversos, vaidosos e prepotentes.
- Você esqueceu de secar os pés, está molhando todo o chão da sala!!
Os pés da minha filha, os pés do filho do vizinho, não mais ficarão sujos de terra, nem molhados da água da chuva; suas vozes se calaram, seus ouvidos estão surdos, enterraram suas gargalhadas.
O mundo não para, não pode e nem deve. A cada instante tantos filhos se vão, tantos filhos nascem; o dia ainda amanhece e no seu fim a noite ainda escurece; a chuva continua chovendo e a lua continua aparecendo; o sol continua nascendo e mais tarde continua se escondendo.
A Gal ainda canta Honey Baby e teremos sempre noites quentes.
E de repente, o céu se pinta de estrelas. O mundo ainda briga, o vicio ainda se alastra. As dores nunca cessam e o amor vai se diluindo. Valores se misturam, se perdem nos caminhos. À vida não é dada a importância merecida. Quando se acaba, escondemos a morte de nossas conversas.
Deixando-a de lado, voltamos à vida. Qual vida?

A vida que nos acorda sem nosso bem querer.
A vida que nos leva a deitar sem mais poder dizer: boa noite, até amanhã.
Por quê brigar por tudo se tudo é nada.
Por quê brigar por nada se nada é nada.
Pois tudo é nada e nada é tudo.
Tudo é ínfimo perto de sua partida.

Mas assim somos e quando o tempo passa, mesmo com a dor e a saudade, voltamos a ser mesquinhos e brigamos por tudo, reclamamos de tudo
Resta a esperança (e eu tenho certeza) de que uma mãe muda sim muitos valores.

O que sou?

sou carne, sou osso e coração
sou amargura, dor e revolta
nua, crua, mãe e as vezes madrasta
ingênua, louca, presa e solta
sou música, poesia e cansaço
ganho, perda e desaforo
sou busca, poeira, barreira, ventania e as vezes insana
vou crente, volto cética
vou na esperança, volto na angústia
sou sol morno, água fervente
bolhas de sabão, bolotas de algodão
tentativa de pureza com marcas de existência
tomando a frente, esperando o melhor
sou corpo de agonia, alma de correntes
buscando a cada dia, sonhando a todo instante
querendo a lua cheia, buscando as estrelas
fazendo promessas, ficando na espera
aflita, rejeitada, abandono
fui menina, fui ferida e fui susto
rua de terra, barranco, abacateiro
cobra, trator, mordida de cachorro
com um menino atrás da casa, da mãe a surra da ignorância
inocente no colo do vizinho, ingênua na safadeza do tio
correndo da vassoura, de tapa na cara na frente do namorado
fui medo de surra, pavor de pai
namoradeira, cheia de mentiras
brinquei com a vida e não percebi
sou passado, presente, quero ser futuro
estou apagada, quero me acender e ascender
estou paralisada, quero caminhar
estou assustada, meio apavorada, traída pela vida, pela crença que eu tinha
pensava no futuro de minhas meninas
ganhei um golpe do presente
tenho minha Mariana, filha que tanto amo, mas não consigo ter paz
tenho meus meninos queridos, mas não tenho sossego de alma
tenho a mim e os amigos, mas falta um pedaço de mim
busco tudo que posso para deixar essa fala
mas minha boca não cala, meu peito não se aquieta
meu coração não entende, minha cabeça não para
desassossego, desencanto, canto sem luz
gira o mundo, corre o carro, escorre a água
toca a sirene, a musica e o sino
ladra o cão, a fome cresce, o povo padece
a vida caminha, o dia amanhece, chega a noite e a lua aparece

e a perda?
real, ferida sem cura, buraco vazio.

Chora céu! Aniversário de Elis, saudades da Chris.

Céu enegrecido, por vezes clarões riscando seu infinito. Ouço trovoadas que parecem gritos de dor. Ele está se preparando para mandar sua água.
Há muito Elis se foi, há pouco se foi Chris. Elis e minha filha deixaram seus filhos, filhos que ficaram sem mãe. Triste constatação, essa. Filmes e fotos, tudo é tesouro, alento pra quem fica.
Queria assistir ao seu aniversário, Elis! Se estivesse aqui, queria cantar com tua alma pela partida da Chris. Carregou com você sua voz, mas deixou-a para a eternidade. Estaria fazendo sessenta anos, como seria? Continuaria sendo Elis brava, Elis pimenta, voz de prata saindo da garganta de benção?
Ouvi pelo rádio que havia partido: me joguei na cama soluçando sua ida. Elis guerreira, pequena grande mulher. Gigante. Elis inquietante, borbulhante, de gestos grandes e presença marcante.
Lembro-me sempre de Elis: adorava vê-la, era um deleite ouvi-la.
Te conheci rapidamente, apenas quando fui me despedir. Estava maquiada, um batom rosa, na mesma cor do batom que passaram nos lábios da Chris. Quisemos que partissem bonitas dessa vida aguerrida, dessa luta feroz...
A Chris faria 34 anos em maio. Chris guerreira, mas de gestos amenos. Presença aconchegante. Todos os dias, com seus minutos e segundos, lembro da Chris. No dia de hoje, misturo as duas. No dia de hoje, continua a pergunta: onde está a Chris, onde está você, Elis? Peço que a encontre, cante para ela que tanto curtia te cantar e te ouvir, desde criança ouvia-me te exaltar. Cuide dela por mim e mande um recado: quero que sejam felizes, que curtam o paraíso. Cuidaremos dos que aqui ficaram até que todos nos encontremos.
Céu enegrecido, as trovoadas continuam ensurdecendo meus ouvidos, descarregando sua ira, jogando na terra a sua dor, despejando todo o seu choro.
A dor que tenho hoje faz com que eu perceba que cada um carrega a sua. Tanto a dor quanto a saudade são únicas. Nada de dentro, nada da alma, pode ser dividido: te dou um pedaço de pão, divido contigo um copo de vinho, mas dor, agonia e desespero, cada um de nós sente a a sua.

Feliz Aniversário

O mês de maio está próximo e com ele seu aniversário está chegando e não posso mais te desejar felicidades, nem mesmo mandar um telegrama. Queria cantar tua alegria, queria brindar o seu carinho, escutar mais uma vez você cantar Banho de Espuma, reunir os seus amigos e ouvir suas histórias. Dia seis passarei sem tí, quero que seja feliz.
Perpetuo nessas folhas todo amor do mundo, cravo nessas palavras minha saudade eterna. Levarei comigo seu jeito doce de ser, sua bondade e compreensão.
Palavras se perdem ao vento, mas não essas, pois deixo-as cravadas de lágrimas, dor, saudade e lembranças. Essa homenagem, meu amor, cheia de dor e saudade, ficará para quem te amou e te respeitou.
Você partiu cedo mas derramou na terra amor, ternura e carinho. Chorou teu choro de agonia, fechou teu peito na tristeza, trouxe no ventre seu fruto de um amor, lutou sua guerra, rumou seus últimos dias de vida acreditando na vitória. Pararam seus passos, calaram seu grito, te de deixaram na dor. Arrancaram seu sorriso, cerraram seus olhos.
Fica uma saudade imensa e a grande certeza: o meu amor, o amor do seu filho, do seu pai e da sua meio filha meio irmã , ninguém, ninguém poderá nos tirar.

Um novo dia

A cada acordar, te busco no abrir dos olhos. O peito se aperta e começo a chorar. A tristeza é tão grande, tão cheia de um vazio imenso! Busco correndo sua irmã, seu pai e as crianças. O dia é de fato novo e sua ausência é de fato eterna. Ligo o rádio e penso: por hoje minha vida continua. Estou buscando o que já busco há vários anos, mas com uma doída diferença: as dores e mágoas são maiores.
Quero fazer plágio de algo que li não sei onde para dar cor à minha vida:

Meu pai era escuro. Minha mãe, lilás. Minha vida já foi cor de rosa e meu coração dourado. Hoje estou transparente mas cheia de um verde crescente, buscando desesperadamente o branco da paz, que por ora se faz ausente. Conto com o dia que chega brevemente carregando em seu céu um azul singelo e uma lua de prata. Passeata de estrelas e cantos a beira mar, uma roda de amigos e paz a borbulhar. Não passo te buscar, não pode mais voltar. Tenho que aceitar,mas antes, preciso aprender. Me falta o chão, me falta a respiração. Falta sua vida, falta você!

Feliz Ano Novo

2005 está quase chegando. 2004 te levou de nossas vidas.
No meu coração tenho espinhos cravados deixando o sangue correr escondido.
Não posso sorrir para os convidados. Só consigo comer sem parar, pensando que a dor de sua ausência pode ser aliviada com o ato de mastigar sem parar.
Não sei por que você foi embora sem dizer adeus. Não entendo. Se sabia que ia viajar deveria ter me avisado! Tentaríamos conseguir uma passagem pra você poder voltar.
Queria muito saber se de onde você está consegue escutar o barulho dos fogos de artifício. Estouram muito forte e eu, inerte, sentada na calçada, sem conseguir chorar.
Não se cubra essa noite, está calor e pode ser até que chova. E se o céu chorar, juntarei minhas lágrimas com o choro dele para encharcar meu peito pequeno, estreito, tão apertado.
Ouço vozes, risadas e choro de crianças, ouço o tiroteio dos fogos avisando que o ano novo vai chegar. Só não avisam que você não vai estar.

Feliz Natal

Não queria nada. Bebida nem comida, sequer possível serenata. Não precisava mesa farta nem frutas adocicadas, não precisava roupa nova, presentes nem cabelos arrumados.
Podia ser calça furada, chinelo de dedo, cabelo desgrenhado. Feijão com arroz, bife quase queimado, e uma salada bem temperada como você gostava. Qualquer toalha, pratos sortidos e pequenos, copos de requeijão.
Por que só hoje eu vejo que poderia ser assim? Como se pode saber que estando todos juntos, que é o que importa, poderia ser tudo mais simples? Só mais uma data, só mais uma noite que no dia seguinte vai encontrar mais um dia, como qualquer outra noite encontra o dia seguinte. Por que precisa alguém ausente pra gente perceber que tudo poderia ser diferente? Tudo simples, mas com você aqui! Quando não falta alguém tão amado, come se muito, bebe-se bastante, as pessoas se maquiam e põe roupa bonita, compram presentes. Afinal, não se pode saber que um dia, e sempre haverá um dia, vai faltar alguém...
Alguém que se foi há muito tempo. Alguém que se foi há pouco tempo. Alguém que se foi há pouquíssimo tempo. Que festa é essa? Aniversário de Jesus? Que festa é essa onde piscam luzes em árvores de Natal, nos prédios, nas portas dos comércios, piscam na cidade, no país inteiro, no mundo todo? Que festa é essa onde se come muito enquanto milhares de seres humanos estão abandonados?
Quando um filho se vai para não mais voltar pode se ter mesa farta, banhada a ouro e em cima dela lagosta e caviar. Tudo terá seu próprio gosto. Sempre teremos pessoas ausentes e continuaremos a ter, as noites de Natal continuaram chegando. Mas com um filho ausente, arroz com feijão será suficiente.

Está chegando

O natal está chegando, não sei o que fazer. Ficar sozinha ou me arrumar e sair, comer que nem louca enquanto espero a meia-noite para dizer Feliz Natal? Feliz o quê?
Não te ver sorrindo, cantando Jingle Bel com a tia Sonia, não sorrir ao ver você batendo nos copos de cristail? Não te ver feito criança diante da mesa farta com seus olhos gulosos sem saber o que comer primeiro?
Feliz o quê, saber que dormirá para sempre? Saber que no fim de ano não vai mais acampar?
Será que vão pagar pelo o que fizeram, pelo o que não fizeram?
Quanto custa uma vida?

Susto!

Meus olhos se abrem acordados pelo susto... a Chris se foi!
Vejo-a naquele caixão e enlouqueço quando lembro seu corpo mal ajeitado. O que isso importa agora? Sua vida não estava mais ali. Roubaram-na naquela cidade escura e fria, naquele imenso matadouro.
Quanta crueldade fizeram contigo, meu doce. Que maldade te mandarem pra casa doente, morrendo, enganaram a todos fazendo-nos crer que tudo estava bem. Mentiras, tudo mentira!
Malditos, todos malditos! Pais, filhos, tios, primos, sobrinhos ou irmãos. Católicos, evangélicos, espiritas, ateus, cristãos, judeus, budistas, hari krishnas, quantos são eles? Mostra pra mim filha! Quero ver um a um, olhar nos seus olhos, entrar em seus cérebros. Será que eles tem, será que pensam? Será que dormem à noite, conseguem repousar em paz? Se vestem de branco e andam apressados, entram nos quartos aviando receitas. Alguns, de repente, até sorriem, mas brincam de faz-de-conta.
Vem meu amor, senta ao meu lado e conta para mim. Quantos foram, quem são eles? Te abriram e quando fecharam sabiam que estava acabado, sabiam que o fim estava chegando...
Na tentativa de se eximir, disseram que você fazia teatro. Queria Coca-cola, dormir um pouco para descansar de tanta dor? Pediu um Diazepan? Tanto tempo sem dormir! Pediu um pote de gelatina? Estava exausta, lutou sem parar, sofreu cada minuto de todos aqueles quarenta dias.
Te vejo na porta de calção azul:
- Mãe, me leva pro hospital, não aguento mais de dor.
Todos dormiam, nem recado deixei. Fazia teatro? Por que não estava ao palco? Nem vi a cortina se abrir!
O telefone tocou, era seu pai. O espetáculo havia chegado ao fim e a platéia permanecia na calçada. Mas não era porta de um teatro, era do matadouro. Quando a Mari chegou, pensei que ainda podia dar certo, vai dar certo! A casa cheia, o desespero, a dor. Não gritava, não chorava nem morria, andava pela rua com meu corpo de agonia, com o coração rachado. Eu já sabia, ela não voltaria mais.
Lembra daquela senhora, na cama em frente a sua, enquanto você se recuperava da cirurgia? Você dizia: coitada dela, mãe, sente tanta dor!Sua generosidade nunca te abandonou. Mesmo no meio de sua dor, enquanto sofria, lamentava a dor vizinha...

Amanheceu

O dia está chegando mas o céu ainda está cinzento com o sol se preparando para chegar. E meu peito, até quando vai suportar?
O pássaro cantador já está voando pelo quintal enquanto a casa ainda dorme.
O meu sono já se foi. Acordo com você todas as manhãs, deito com você todas as noites.
É a lei da natureza, é a vida... mentira!!! A lei da vida é viver bastante, a lei da natureza é os pais irem antes.
Onde você está? Dorme? Canta Rita Lee e Gal? Assiste às vídeo cassetadas junto com o Cauê? Gargalha solta no sofá? Que delícia te escutar, ver seu lado criança se manifestar. Onde você está?
Meu peito bate forte, meu corpo treme. Já são longos e penosos nove meses de saudade. Que vida mais estranha! Seu sobrinho Leon chegou ontem à noite. Um dia apenas separando a data da chegada da vida com o dia seguinte marcando nove meses de sua partida.
O céu já está mais claro e a casa ainda dorme. Meu peito chora, a saudade aflora e traz a dor que corrói.
Trouxe comigo para o quintal o livro Perfume de Eliana, escrito por Alice, sua mãe, que a perdeu em um acidente de carro aos vinte e poucos anos. Não consegui ler A vontade de falar com você chegou, imperiosa.
O jardim está lindo! A figueira de seu pai, frondosa, majestosa.; os brincos de princesas, ou lágrimas de cristo, estão maravilhosos; as rosas, vermelho vida, vermelho amor, esplêndidas. As margaridas ainda não vingaram. Espero, ansiosa.
Vem chegando o azul do céu e a casa ainda dorme. Que silêncio bom!
Falta meu bichinho, o teu doce frutinho.
Seu pai perdido, sofrido e sem rumo. Sua irmã cansada, exausta e ansiosa. Todos buscando você, buscando viver, na busca do por que.
O dia já amanheceu. Você já acordou? Sempre quis dormir um pouco mais e o Cauê nunca deixou. Hoje está estabelecido que dormirá para sempre. Por quê? Me diz, quem decidiu? Poderia dormir aqui, eu levaria o Cauê para passear. Você dormiria em paz. Mas não para sempre. Não precisavam te levar.
O dia chegou e a luta vai começar, vem me ajudar, vou comprar Coca-Cola, posso fazer um pão. Você não tem que estudar? Filha vem pra casa almoçar. E se o Flávio te ligar? Terá tempo para conversar? Ah! Meu amor, onde você está? Diz logo, a Mari pode te buscar. Não, não quero resposta, eu sei onde você está. Só preciso te encontrar, acariciar seus cabelos, apertar suas bochechas...
O que sei, só o que sei, é que viva o quanto eu viver minha pergunta ninguém irá responder: por que?

A, B, C, D...

absurdamente insano,
bestamente por descaso,
com certeza desumano,
dolorosamente verdadeiro,
erradamente no tempo,
francamente um abuso,
geladamente sem critério,
humanamente inaceitável,
ignorando a dor,
jogando com o tempo,
kalundun,
lamentavelmente ineptos e adeptos,
magramente humanos,
nefastos,
obedientes,
perfeitamente indecentes,
querendo despachar,
redondamente impunes,
sabiamente cretinos,
turvamente mentem,
urubus ululantes,
vagarosos,
zuando, zunindo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Repetição

Dor indecente e insistente que só se acumula, sem piedade.
Mal estar poluente, grudado em meu corpo sem trégua calmante.
Quero beber, quero descer, rejuvenescer, voltar a viver.
Sem escora, dependente, carente. Chega dessa demora.
A volta de dentes sem vergonha de dar risada, jogar cartas, gargalhar.
Dor que dispara, aperta o gatilho e da nó na garganta.
Me veste de medo, me despe com fogo.
Tudo se mistura e queimo em desespero.
Deito com minhas dores, saudade, doente ainda.
Busco minha cura, demora em chegar.
Curar minha dor e saudade sei que não vai dar.
Espero-as menor e a amenização da minha doença.
A noite está quente e a mente inquieta.
Correm pensamentos.

Sem nome

Sem nome, acordei na madrugada.
Arrumação, dor e solidão, poeira, sujeira, roupa jogada, tomada quebrada. Assisti ao seu filme pela metade, mais presente impossível. Muita comida, chocolate, muito cigarro. O telefone não toca, como agir?
Ela pediu um dia: tome conta do Cauê se algo acontecer. Soube disso depois que partiu.
Muita agonia, ficando imensa, a fome não sacia, o refrigerante corrói, devassa, tomo direto da garrafa.
O tic-tac do relógio atordoa, a alma enferruja. A família e os amigos nada entendem. Eu nada entendo, vivo agressiva, vem de repente, talvez seja medo da loucura. A morte traz o descanso, mas não quero partir. Meu pai me visita em sonhos insistentes, minha mãe ainda em sua missão doente, pessoas loucamente ausentes da vida, da razão, do pé no chão.
Assassinos impunes, corrupção servida em bandejão, ano de copa e eleição, venda nos olhos do povão.
Acordo sem nome, deito assustada, os meses se arrastam e o túnel continua escuro. O dia se arrasta, me arrasto pesada, carente, ausente e pedinte, comendo a comida que não pago, bebendo da água que não é minha, fumando o cigarro sem poder comprar, usando a luz sem poder pagar.
Reina um silencio com barulho de armas em transe, carros passando no farol vermelho, o relógio correndo antes que a pilha se acabe. Portas mudas no seu papel, abertas ou fechadas, o varal tem roupas penduradas enquanto as máscaras continuam postas, difícil para todos arrancá-las.
Assim vai chegando o dia e as correntes continuam se encaixando na engrenagem. Bom dia para o chefe de cara feia, água no fogo para o café, o lixo saindo para a rua, a condução lotada carregando gente como se fossem bois.
Os dias assim se passam e eu enjaulada no sofrimento e na vergonha, na dor e na sujeira do corpo sem banho, no susto de uma boca sem dente, total carência de um beijo e um abraço.

Chris, bom dia!

O sino está badalando seis horas, acordei e sabia que não poderia dormir mais, pelo menos não imediatamente.
Hoje é o dia de seu aniversário e quero converssar com você. Ontem, ao telefone com sua irmã, tive uma crise de choro. Não entendo o que aconteceu, não entendo porque não pude fazer nada por você.
Se não tenho culpa por ter partido, preciso que venha me dizer pois penso que precisava ter feito algo mesmo eu não estando no mundo real, pois me encontrava em outro lugar.
Nos poucos sonhos que tenho com você, percebo que está bem mas você não diz nada e aí, fico indecisa.
Lembro que você lamentava a morte da Helena por ela ter partido tão jovem e você se foi, tão jovem também.
Quero que tenha uma festa onde está, muitos beijos e muitos abraços apertados.
No dia do seu aniversário eu mandava sempre um telegrama mas como não sei seu novo endereço vou lhe deixar uma mensagem:
Quando estiver caminhando não se esqueça de levantar seu lindo e longo vestido prateado, para que ele não se enrosque em suas lindas sandálias de estrelas.
Mantenha seus lindos cabelos soltos, com lindas margaridas ao longo de seus fios.
Com suas mãos de dedos longos e finos, faça carinho nas nuvens que passam ao seu redor e quando colher flores, coloridas e macias, coloque-as num canto fresco e iluminado para que seu perfume possa chegar até mim e me envolver como se você estivesse por perto.
Agora, vejo seu sorriso, largo e doce, seu rosto está feliz, sua alma leve e alegre, seus passos suaves e cuidadosos.
Aqui o dia está chegando, os relogios se contrapoem ao seus sons, estou fora da jaula, fétida de cigarro e há restos de comida. O ar está impregnado de desespero, medo e solidão.
Poeira por toda parte, roupas limpas e sujas se misturam, a porta sempre fechada assim como está meu coração desde que partiu. Amo você.

Escrito em 06 de maio de 2007

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Não sei de verdades, sei de saudades

Tem dias que o tempo para e o brilho do sol é desespero.
Há dias que se iniciam me carregando para aquele dia
Enlouqueço, penso em partir. Respiro fundo, choro profundo, penso em ficar.
De verdades nada sei, o que são mentiras nunca saberei.
A saudade é gigante, não posso olhar o dia.
Faço do escuro meu escudo, não quero olhar a verdade.
Dessa verdade sei de tudo: não tenho mais você.
Paralisia, corpo torcido, alma quebrada.
Queria uma borracha, um apagador, quanta tolice!
Na minha cabeça, no meu coração, não tem quadro negro, não tem papel.
Dias como o de hoje, só tem verdades.
Trancada no escuro, fujo do dia, fujo do sol, não tenho alegria.
Sou algo sem planos, sem chão pra pisar.
Sou brasa que queima só em lembrar.
Aprendi algumas coisas, poucas, pelo tempo que cá estou.
Contigo ao meu lado já se fazia difícil. Sem você, tudo caminha sem meu andar.
Estou indo, mas bem devagar.
Divagando nos dias que amanhecem, rasgando-me em dor, me matando na saudade.
As lágrimas são quentes e o corpo não me obedece.
Vejo teu filho, um pouco meu filho e viro vulcão: solto fogo em meu coração, sinto raiva, queria-os juntos, amor imenso, tanto a fazer.
Quero compreender, mas não consigo entender.
Vou me levantar, abrir a janela, vou permitir o sol entrar.
Sei de mentiras e poucas verdades.
Hoje, a verdade é a dor gigante, a saudade imensa e a certeza que meu presente e meu futuro é sem você.
A morte carrasca bateu na porta, mas te prometo, vou lutar tudo que puder, por você e por mim, pelo teu menino. Buscar forças e ter um canto onde eu possa ter minha paz e sossego, pra gente se falar.

Feliz dia das mães

Quanta ironia, mentira e safadeza.
- Bom dia mamãe, feliz dia das mães!
Com certeza, muitos desses cumprimentos são sinceros, mas tantos outros apenas por obrigação.
Esse dia começa especialmente mais cedo: a mãe já adiantou as compras para preparar o almoço mas, com certeza, ainda vai ficar muito mais tempo na cozinha. Justamente por ser um dia especial, claro que vai passar uma vassoura na casa, limpar os cinzeiros e guardar os brinquedos do neto – aquele mesmo que ela cuida a semana inteira.
Chega a ser engraçado. Os filhos, noras, genros e netos conversam e brincam e a mamãe, essa fica na cozinha. Que bom para aqueles que não fazem desse dia um dia especial mas sim um dia alegre como pode e deve ser todos os dias.
O dia do ser humano é cada dia de sua vida. O resto, puro comércio.
Tem alguns dias que não dá pra deixar de comemorar, o das crianças por exemplo, elas não permitem.
De resto, os dias começam, tem meio e fim. Tem amor, dor e decepção, tem pancadaria, agonia e corrupção.

Sonho

Levantei o tapete, estava lá: amassada, descabelada, empoeirada.
Peguei-a, coloquei-a no sofá. Espere, vou te ajudar. Tirei os sapatos, coloquei os chinelos, mudei de roupa, tirei a maquiagem. Guardei os anéis e os brincos e então a levei para o banho.
- Me deixa, não tenho vontade, não tenho coragem, me dá desespero.
- Colabora, tenho pouco tempo. Preciso escrever, cuidar da casa, tantos livros pra ler, ver os meninos, assistir a um filme e ainda namorar.
- Faça o que tiver de fazer, me deixa sozinha. Sei me cuidar, ainda preciso esperar, logo tudo vai passar. Estou torcendo por isso e vou conseguir. Aí, junta-se a mim e vamos em frente. Agradeço a sua ajuda e sei que torce por mim.

Não quero mais

Meus pés ficaram presos na soleira da porta. Não quero mais entrar aí, esse imenso quintal me traz você de volta. Real demais, vejo você brincando com seu bebê.
Não quero mais subir escadas para o vazio, chegar na sacada onde um dia estava você, rindo em pose para foto antes de parir.
Não quero olhar a poltrona onde amentava o seu bebe, onde aconchegava seu menino para tirar sua dor.
Não quero mais ver a casa, a pia onde lavava mamadeiras com tanto zelo e carinho.
Não quero olhar para aquele jardim que ficara tão bonito,e hoje, tão abandonado.
Não quero olhar aquela porta, onde você sentava na soleira e dali apreciava as brincadeiras.
Não quero ver o largo na rua onde com ele jogava bola.
Não quero cruzar as esquinas que te traziam de volta pra casa.
Um grande pedaço de mim se foi com você.
Não sei mais sorrir, não quero mais cantar.
Não sei sonhar contigo, não sei como te deixar.
Você dançou naquela festa, foi pra praia acampar.
Naquela madrugada, começou a nos deixar.
E esse meu tormento só faz a cada dia aumentar.
Estou sempre te chamando mas não pode escutar.
Corro pras tuas fotos mas não posso olhar.
Suas margaridas não vingaram.

Mãe (escrito para as mães do Casulo)

Mãe,

O que dizer pra ti? O que dizem pra mim? Que ninguém diga nada. Dizer o quê?
Lábios selados, olhos nos olhos e um abraço apertado será o melhor. Não há palavras, não há consolo, não há respostas.
O que dizer para ti? O mesmo que tem à dizer para mim: os dias passando, o coração sangrando e a pergunta de sempre. Procurando crenças, buscando lugares, fazendo pedidos, procurando um canto para chorarmos a dor.
Não se acredita, é sonho, é pesadelo! É verdade, é fato e é cruel!
Mãe, entre, daremos a tí o que temos a dar: dor, saudade e revolta. Mas, tenha certeza de que temos abraços e a procura do continuar.
Algumas palavras, que mesmo que agora se façam vazias como pingo de chuva, irão te ajudar.
Mãe, daremos a tí o que conseguirmos lhe dar: cumplicidade na dor, entendimento no desesperar. Amizade e ombro pra chorar. E aqui, nesse lugar, diremos a tí: vem, vamos nos ajudar...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Depressão - dias monstruosos

Meus passos não querem me tirar do quarto, minha mente grita por liberdade de atos.
A vida grita em todos os cantos, na rua, no sol, dentro de casa. A minha vida grita de dor, desespero e cansaço, quem chega e vem me cumprimentar não sabe da minha dor, vergonha e humilhação.
A mente embaçada e confusa não me diz como continuar. O mundo caminha e eu continuo paralisada. A raiva se apodera e me faz confundir tudo, enrosco as mãos nos pés e não compreendo tanta loucura.
Fui menina, garota e mulher. Hoje sou pessoa jogada, largada e ladra de doces, implorando compreensão quando sei que ninguém pode ter.
Junto com meu buraco abstrato, purulento de feridas que gotejam sangue, escondidas, feridas grudadas na alma, impregnadas nos poros, fundindo-se ao suor fedido por falta de banho.
Do porão do desespero subo para o sótão imundo da medicina de status, dos diplomas nas paredes, recheadas de certificados e glórias. Medicina que salva mas também carrega vidas quando mãos e mentes despreparadas não prescrevem os remédios certos e não pegam o bisturi na hora devida. Diplomas com letras enormes e no rosto a superioridade que não deveria existir. Muitos são esses homens que disseram querer salvar vidas mas sem a humildade de pedir ajuda sempre que sentir que precisa.
Longos onze anos envenenada por drogas e mais drogas, muita dor pela caminhada sem esperanças.
Viva de casca e de roupas mas morta, tão morta, que nem consegui viver os últimos dias de minha filha. Via seu inferno de medo e dor ,escutava seu choro de agonia e nada eu fazia. Não podia, não conseguia, somente morria. Nem chorar sua partida eu fiz. Esvaziada de vida, não entendia de morte, muito menos daquela que arrancava para sempr uma vida que poderia ser tão bela.
Quando chego ao sótão de minha alma, tem desespero e solidão, tem poeira e escuridão. Aí, enlouqueço na realidade da humanidade, pacata, esperando por dias melhores.
Nesse sótão vejo pessoas aprisionadas pelos poderosos e podres de tudo, com pensamentos latentes em lucros e orgias, orgias de desmando, de pouco caso, de puro descaso, levando a pacata e dominada humanidade sempre pensando que de nada são capazes, que nada poderá ser diferente.
E assim caminha a humanidade: açoitada, esmagada e faminta, faminta de vida, de vida verdadeira, faminta de educação, saúde e dignidade; humanidade expropriada de tudo, amor, generosidade,vaidade.
Quando canso desse sótão imundo e gelado, desço ao porão embolorado de paredes rachadas, de estofo podres e contaminadas pela dor e abandono, de uma vida medrosa que desencanta o homem que ali precisa morar, mas abandona tudo porque já abandonou sua vida, tão despida de atenção
e proteção pelo estado vigente. Homens poderosos que um dia estarão igualmente a todos nós, debaixo da terra, comidos e dissecados, sem gavetas para guardar suas imensas fortunas roubadas e depositadas em paraísos dourados e reluzentes. Um dia poderão estar pretos e bolorentos, destruídos pelas mãos da sabedoria e do aprendizado que, até que se prove ao contrário, todos choram ao nascer.
Desço para o porão e corro com o campo fértil da imaginação, arrastada pela indignação, pelo sofrimento em que me arrasto, por pura falta de estudo, falta de vontade, falta de investimento, sem querer desafiar o mundo da mente dos homens acometidos por doenças mentais psicossomáticas e eventualmente neurológicas. Homens que se dizem médicos e se sentam atrás de uma mesa, rezando á Deus para que as horas passem depressa, e nesse tempo de espera, receitas e mais receitas, drogas e mais drogas.
- Vá para casa e durma com seu barulho, transpire sua dor no travesseiro, esconda seus medos embaixo das cobertas... se as tiver, claro...
Guardei as caras e o pouco caso de todos, salvo aqueles que se arrastam pela vida acreditando no que estão fazendo. Tento depurar no papel a vontade alucinada de poder inquirir a todos que se valem do avental e do estetoscópio pendurado, lançando olhares de enjoo, nauseantes, pedindo para entrar o próximo.
Hoje tenho a esperança, o sonho de tantos anos, de estar próximo o adeus a tantos anos de sofrimento, esperança essa dada a mim por pessoas lúcidas e amorosas, amigas e verdadeiras, por médicos que não brincam de medicina, família e vizinhos, conhecidos e vindos a conhecer nas filas de espera da dor e da crença em dias melhores.

Rosas cor de rosa

Vestida de branco, bordado de rosas cor de rosa. Muito jovem, amando muito e querendo muito meu neném, já no ventre haviam três meses.
Praia, sol, Cristo redentor, lençóis passados abertos, gavetas impecáveis.
Muitas brincadeiras saudáveis. Ela sentava-se ao piano, puxava sua Lalá com seu lulú, ouvia seu pai tocar violão e, na vitrola, Roberto Carlos.
Brigava com o Fábio e sempre que apanhava dele, chegava chorando e puxando minha saia: - Mãe, o Fábio me bateu!
Cabelos lisos e escuros, olhos grandes, sorriso largo.
Chris de outrora pequenina, hoje estampada no Cauê.
Alegre, só sorrisos, comia terra do jardim, comia as cabecinhas os fósforos.
Regava as plantas, adorava banho, faceira e inteligente, eterna chupeteira.
Tres anos e meio depois, chegou Mariana: alegre, branquinha e risonha para logo depois, Mariana pequena chorona
Brigas? Claro que sim, mas amor muito também.
Passeios, fotos, filmes, aniversários.
Chris com dez anos completos, Maricota com quase sete, fui me embora. Enlouquecida de paixão, fiquei cega. Saí na madrugada, a crença era certa: logo viria buscá-las.
Fui pra rua na madrugada, atrás de um novo amor. Nem imaginava, que a culpa nunca me deixaria.
Tiveram vidas de ciganas, a cada tempo um novo teto, a cada tempo uma esperança: será por pouco tempo! Esse tempo durou muito até que voltaram pra mim adolescentes. Muitas preocupações, bastante diálogo, brigas e proibições.
Tinha minha vida centrada no casamento eterno que se acabou depois de onze anos; ilusão feita de sonhos dourados, achei que logo tudo se ajeitaria.
Novamente outra mudança, para junto do pai e sempre com a irmã. E logo o pai do Cauê, que em sua vida chegaria com muitos anos de mágoas e tristezas: o André precisava crescer, amadurecer. Filho de mãe castradora e a Chris sempre passando a mão em sua cabeça. Ela não conseguiu dizer adeus à ele, a vida lhe-disse antes.
Levou-a jovem, deixando sua gravura estampada nos olhos e nos cabelos lisos do seu menino Cauê...

Uma pequena estória

Na rua de casa, uns cinco meses antes de a Chris partir, morreu um garoto de dezesseis anos. Ela e a Mari o conheciam desde pequeno, costumava brincar em casa com a Juliana.
Um dia, reclamando de minha depressão, escutei dela:
- Mãe, sei que deve ser difícil essa doença mas será que tem dor pior do que a de perder um filho?
Não, Chris. Te respondo só hoje: não tem dor maior.
Não conseguimos entender: eu, o pai e a irmã. A Mari, depois de um tempo, me confidenciou:
- O choque persiste, não queremos entender de morte.
Ela ainda não acredita, eu não aceito e o pai trancou sua dor – esconde-a no peito, chora sua perda a sós, não consegue dividir.
Só podemos saber sobre isso quando chega em nossa casa. O que estou vivendo? Como posso continuar? Quem me tira de baixo desse trator que esmaga o meu peito?
Minha cabeça rodopia, preciso de ajuda, preciso me acalmar.
Vejo minha filha chorando, como faço pra consolá-la?
Não me despedi, meus beijos foram tímidos, suas mãos estavam geladas e machucadas. Seu rosto estava triste, ela não queria ir. E eu não podia trazê-la de volta.
Nada mais eu podia. Disso, eu entendia: não tem não, Chris, dor maior que a da perda de um filho.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Falando de depressão - grilhões na alma em susto

Amarrada sem correntes, presa com portas abertas
giro no mundo, giro no quarto, giro no delírio
me peso no pêso e na consciência
cobro a vida, a vida me cobra

Choro de dor de saudade, choro de culpas
me dou parabéns, me dou desalento
busco acalantos, busco aconchego
busco verdades e minto pra mim

Sou purpurina, tinta guache, papel dourado
caixa amassada, roupa surrada, suco de limão
sou gargalhada, poeta e feiticeira
detetive, palhaça e faxineira

Conheci amores egocêntricos, elegantes, mau caráteres
radicais, melosos, estúpidos
cavalheiros chatos, jovens abusados
cativantes, cativeiros, amarrada estando livre

Subi em palcos, aplaudi na platéia
recebi elogios, magoei, arranquei a máscara
me prejudiquei, prejudiquei pessoas
abusei, me lambuzei na burrice

Fui carinhosa, atenciosa, grande idiota
me arrisquei nas madrugadas, esperei amanhecer
estive em apuros, consegui escapulir
queria ser tanta coisa, sou Roseli

Roseli grávida ,fecundada na cama do amor
gerei duas filhas, lhes entreguei a luz e o meu amor
amor que eu tinha, o qual eu conhecia
dei carinho e atenção o quanto eu podia

Dei meu leite, banho e brincadeiras
dei broncas, passei noites em vigília
molhei chupeta em açúcar achando que bem eu fazia
chorava junto com dores que eu não tinha, mas que meu coração sentia

Cantei sem saber cantar, inventei histórias
fiz desenhos sem saber desenhar
fui mãe e as vezes madrasta.
dei tudo que tinha pra dar

O tempo passou, correu, caminhou
cresceram, amaram, filhos geraram
fiquei avó, fiquei coruja, fiquei feliz
um dia, assim, um dia, chegou quieta, sem alarde

Arrancou de mim, arrancou dela a vida que lhe dei
arrancou dos meus braços a mulher que eu gerei
levou para sempre aquela que foi brejeira e faceira
levou a mulher doce, mãe carinhosa, filha amorosa.

Fico trancada, a janela fechada ameniza
o barulho da rua, o latido do cão se faz mais distante e a música mais amena
posso fugir um pouco disso? posso fugir de mim?
estou aqui, posso fechar a porta, escurecer o quarto, escrever, mas posso fugir de mim?

Estou aqui dentro de mim, minha cabeça junto comigo, os pensamentos só a mim pertencem
minhas dores só em mim doeram
a saudade só minha está dentro de mim.
busco ajuda, carinho, atenção.

Fico sonhando que alguém se lembrará: - alô, como você está? - só sonho.
O telefone não toca, a campainha não toca, não tem buzina na porta
mas ao invés de trancar tudo poderia objetivar minha busca, antar minha procura, conseguir me bastar, abrir a janela, ouvir o cão ladrar, buscar o que de bom pode a música me dar

Cantar, gargalhar, buscar um novo amor
regar uma planta, ouvir quem precisa falar
falar com quem quer e pode me ouvir
cobrar o que de fato me é devido receber

Não posso fugir de mim, não quero fugir de mim.
quero fechar a porta e trancar a janela para minha proteção
manter o coração aberto, derramando luz e atenção.

Quando?

Renascer, quando?
Nem ela, nem eu.
Não posso mais te gerar.
Nasceu, mas partiu.
Viver? Sim, como puder.
Cheia de nós, te amando, te buscando, te pensando, uma busca sem volta.
Corre o rio poluído, chora a criança sem mãe.
Morre a mãe e deixa o filho.
Morre o filho e deixa a mãe.
Quero entender, aprender, como fazer?
Ninguém me responde, a lua se cala, a estrela se esconde, o mar se enfurece.
Ninguém me escuta, a gruta escurece, minha alma padece, não sei fazer prece.
O estomago revira, a dor se aguça, não sei mais falar com você.
O choro chega, a loucura me invade, morta, me dói escrever.
Me arrasta a saudade, me invade a maldade.

Tempestade na alma

Assim como a chuva, pesada, gelada e cheia de fúria com vento arrastando, céu carregado, nuvens espessas, clarões de fogo, pedidos de socorro, perdida no choro.
Pés enrugados, dedos crispados, solidão encardida, com a casca apodrecida da ferida que não cicatriza, caminho pra frente mas arcada de peso de alma doida, de grito preso, de voz embebida.
Tenho chispas nos olhos, fagulhas douradas, caminho sem doce no mel, sem perfume nas rosas, com chuva de restos caídos do céu.
Algo chega na terra de chicote nas mãos: açoita minha alma, grunhe a boca e o suor escorre como seiva do caule.
Veneno que mata a vida no jardim, jardim que acolhia margaridas tristes que não quiseram brotar pois ela não estaria mais lá.
A terra cansada, seca e suja, se agarra nas muretas manchadas de tinta; terra que restou das águas que limparam marcas da vaidade de uma casa limpa.
Mas na casa, mora a saudade. No jardim, a solidão e no quintal a gargalhada que emudeceu.

Dor

Imensa como o oceano. Infinita, sem rumo, sem bóia, sem barco, sem salva-vidas.
Cheia de sal, com o sol escaldante, ondas gigantes de um verde brilhante, tendo o céu como guia.
Cheia de choro e de boca amarga, com mãos ressecadas, pele queimada; à deriva de um sonho, espero chegar à praia.
Chegando na areia de alma rasgada, sem direção, perdida, açoitada no coração.
Chegando na areia, enxarcada, cheia de algas, sangrando ferida pelas pedras, soluçando sem lágrimas.
Ao longe um monge, um frei de chapéu, um anjo sem asas caído do céu.
Uma moça de branco, um ramo de flores, com pés descalços e um sorriso encantado, prateada de estrelas, buscando o mar, partindo nas ondas, sumindo no ar.

Pequena conversa com Cauê

- Cauê, você quer escrever alguma coisa para sua mamãe?
- Pra quê, vó, minha mãe já morreu. Ela não pode ler...
- Eu sei, meu amor, mas é uma lembrança pra gente guardar.
- Vó, as pessoas tinham que escrever pra minha mãe enquando ela estava viva...

Pensando - Dayse Sarilio

Pego na caneta e penso em escrever sobre a Chris.
Meu pensamento voa e então vejo a menininha Chris quando nasceu, vejo-a quando começou a andar e a fazer gracinhas, e lembro que só aceitava ir às festinhas que tivessem brigadeiros!
Lembro da menina-moça que patinava no Roller, da adolescente que dançava no clube Ipê.
Lembrei da Chris mulher, exibindo sua linda barriga com o presente que Deus lhe deu em seu ventre.
Menina, moça, mulher, que tão cedo foi embora e que tanta saudade deixou.